Tecidos
Algodão
Você já pensou sobre a origem dos
tecidos? Pelo menos daqueles considerados naturais, provenientes de fibras cultivadas,
como o algodão, o linho, a seda, a lã? Sabe qual a história dessas fibras e
como começaram a ser utilizados para a confecção de roupas?
Para nós, dos trópicos, o algodão é
de longe a fibra mais popular e talvez a mais querida. Afinal, é natural, é
macia, confortável, bonita, fácil de manusear, seja para a confecção, seja para
os cuidados diários. É resistente e democrática, vai bem em qualquer lugar,
para sair ou para dormir. Será que sempre foi assim? Será que antes, muito
antes, todos usavam o algodão da mesma maneira? Certamente não. Essa fibra,
considerada no período colonial pouco nobre, cobria os corpos dos serviçais e
da gente simples. As pessoas de posses importavam sedas, veludos e outros
tecidos considerados nobres.
Alguém já viu uma plantação de
algodão, na época da colheita? É um cenário belíssimo, com as flores estourando
em grandes punhados de fibra branca, contrastando com o verde das folhas e o
céu azul, pois normalmente o céu está sempre azul na época da sua colheita,
caso contrário, se fosse na época das chuvas, a perda seria imensa.
Durante séculos, seu cultivo, pelo
menos no nosso país, foi manual. Sazonalmente, milhares de trabalhadores rurais,
entre eles mulheres e crianças, dirigiam-se aos campos para a colheita. A
preferência por mulheres e crianças deve-se ao fato de terem as mãos mais
delicadas e por isso, conseguirem arrancar os cachos sem danificar a fibra.
Vale lembrar que, embora a fibra seja macia, as folhas são ásperas e machucam
muito as mãos de quem colhe, geralmente não utilizando nenhum tipo de proteção.
O plantio de algodão no Brasil, via
de regra, sempre foi feito pela agricultura familiar, ou seja, pequenos
proprietários que plantavam com a ajuda da família. Na época da colheita, ou
contavam com a ajuda dos mutirões - revezavam-se os vizinhos de plantações para
ajudar ou então se contratava algumas pessoas para ajudar.
Com o passar do tempo, com a
industrialização e a crescente demanda pela fibra foi fazendo com que sua
plantação deixasse aos poucos de ser de responsabilidade da agricultura
familiar para ser explorada por grandes proprietários. Nessas ocasiões
contratavam mão-de-obra local ou regional e o pagamento pela colheita era feito
pelo peso da saca, normalmente um preço muito baixo. Como o algodão é muito leve,
os colhedores tinham que trabalhar arduamente para preencher o maior número de
sacas possível por dia para que o peso final compensasse alguma coisa.
Em algumas grandes propriedades, a
colheita é feita através de grandes máquinas, que de uma vez só realizam o
trabalho de muitas pessoas. Conseqüência? Desemprego no campo.
Antigamente, as fibras, quando
cultivadas nas pequenas propriedades para consumo próprio, eram tecidas pelas
mulheres da casa em grandes rocas. Feitos os fios, eram então trabalhados e
tecidos em máquinas rudimentares de tear e aí, então transformadas de acordo
com a necessidade: roupas, cobertas, mantas, toalhas, tapetes.
Hoje, a
utilização do algodão ultrapassou as fronteiras populares e ter algo 100%
algodão é motivo de felicidade, pois costuma-se misturar material sintético a
essa fibra.
Outra questão
que envolve o algodão é o seu cultivo. Como existe no Brasil uma praga que o ataca
e que impede que suas flores desabrochem, as plantações são constantemente
pulverizadas com agrotóxicos. Além de fazerem mal às pessoas que têm contato
com ele durante a aplicação e a colheita, uma vez processado, seu resíduo cai
na corrente pluvial ou no solo, contaminando tudo. Fora isso, resíduos sempre
acabam ficando nas fibras e, consequentemente, no produto final. É justamente
esse tipo de resíduo que tem feito o sofrimento de muitos trabalhadores dos países
pobres, pois ao manipularem as fibras para a confecção das roupas, respiram o
produto e também têm contato com ele através da pele. Em muitos países onde se
instalam fábricas de roupas multinacionais, os governos locais não têm
regulamentação sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos e seu uso é liberado.
O que muito consumidor de países ricos não sabe é que, ao adquirir um produto feito
na China ou feito no Camboja, por exemplo, sua roupa pode ainda ter resíduos
daqueles produtos. Embora proibidos nos países ricos, muitos agrotóxicos vindo
dos países onde as roupas são confeccionadas acabam contaminando seus rios,
pois, uma vez lavadas essas roupas, os resíduos caem na corrente pluvial e se espalham.
Há alguns trabalhos científicos sobre isso.
Hoje é possível encontrar fibras
naturais, como o algodão, cultivadas de acordo com os princípios da
agroecologia, nos quais o uso de defensivos agrícolas químicos está banido. Mas
seu custo ainda é muito alto para o consumidor.
Da próxima vez que vestir sua
camiseta confortável, para praticar esporte, passear ou dormir, pense nisso:
qual foi o caminho percorrido por essa fibra até chegar à sua minha gaveta?
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