Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Moda e Cultura


Resgatando a História da Moda Brasileira: Clodovil Hernandes

Instituto Clodovil Hernandes em campanha para alocar acervo do estilista


O curador do acervo de Clodovil Hernandez, Vagner Carvalheiro, falou ontem, dia 16,  sobre a importância de Clodovil Hernandez para a moda brasileira e sobre o movimento para a concretização do espaço que abrigará o Instituto que leva o nome do estilista. A entrevista aconteceu durante a exposição Renda-se, evento que acontece paralelamente ao SPFW, no espaço A Casa, museu do objeto brasileiro.

Segundo Vagner, que é professor no curso de Moda da ETEC José Rocha Mendes, do Centro Paula Souza, a importância de Clodovil para a moda brasileira está na essência da criação do estilista, que idealizou roupas atemporais, clássicas, além de produzir peças com um acabamento impecável. Suas roupas dos anos 1970 continuam atualíssimas, fugindo de tendências e imediatismos. Muitas vezes fazia roupas para clientes exclusivas, para as quais criava de acordo com sua personalidade, sua história. Ele capturava o clima da cliente e criava  dentro do seu estilo. Não eram roupas genéricas nem de coleções. Para Vagner, a grande diferença entre os estilistas daquela geração e o mundo fashion de hoje é “ter e aparecer, mais do que ser”. Clodovil, assim como Dener e Zuzu Angel, fazia parte do “ser”, daí sua importância inegável.

O curador do acervo de Clodovil Hernandes, Vagner Carvalheiro 

O Instituto Clodovil Hernandez foi fundado por Maurício Petiz, assessor pessoal de Clodovil e produtor de seu último programa A casa é Sua. Para quem quiser conhecer mais sobre o Instituto, pode consultar a página oficial no Facebook.

O Instituto, que ainda não tem sede e está em fase de captação de recursos, deve ser  alocado em São Paulo. Do acervo fazem parte cerca de 50 vestidos, entre eles sete vestidos de noiva, além do vestido com o qual foi o vencedor do Prêmio Agulhas de Ouro e peças de clientes que teve em Brasília.

Clodovil Hernandes é um dos três grandes nomes da história da moda no Brasil de uma geração que primou pela elegância, criatividade e estilo. Começando em uma época em que a moda exclusiva era para um público seletíssimo, Clodovil fez parte de um mundo restrito de uma moda brasileira formada por poucos e renomados criadores que fizeram história, como Dener Pamplona de Abreu e Zuzu Angel.

Cenas do passado de Eva, a bela e a fera
Clodovil assumiu seu lado midiático e foi para a TV ainda nos anos 1970, no Programa 8 ou 800, da rede Globo, respondendo perguntas sobre Dona Beja, sob a apresentação de Paulo Gracindo. Clodovil não deixou sua participação por menos: angariou o prêmio máximo.

Nos anos 80, participou do TV Mulher. Inovador, foi o primeiro programa voltado para a mulher moderna no mundo global pré Ana Maria Braga. Naquela época, a sexóloga Marta Suplicy falava de sexo e mulher na televisão enquanto muitas donas de casa preparavam o almoço (falar de sexo e direitos da mulher nos anos 80, era um tabu). Participavam do programa, entre outros, Marília Gabriela, Ney Gonçalves Dias e Clodovil, que desenhava ao vivo modelos para telespectadoras que escreviam cartas pedindo modelos. Enquanto desenhava, falava de moda, do mundo fashion, dava dicas de estilo, comentava cenas cotidianas. A abertura do programa, com música de Rita Lee e Roberto de Carvalho - Cor de Rosa Choque, dava o clima do programa. Foi nesse período que Clodovil deixou seu exclusivo mundo de agulhas, paetês e hight society para ficar conhecido do grande público. E não parou mais.

No mesmo período, apresentaria os programas “Clodovil” (Rede Bandeirantes - 1983), “Manchete Shopping Show” (Rede Manchete - 1983/1985) e “Clô para os Íntimos” (Rede Manchete - 1985-1988). Nos anos 90, no canal CNT, apresentou os programas “Clodovil Frente e Verso” (1993/1994), “Clodovil em Noite de Gala” (1993/1994) e “Retratos” (1995/1996). Na TV Gazeta, nos anos 2000, é a vez de apresentar o programa “Mulheres”. Na RedeTV! apresentou o programa “A Tarde é Sua”, em 2003

Sempre polêmico, falava o que pensava com seu jeito característico de arregalar os olhos e olhar diretamente para a câmera. Costumava dizer que lidava muito bem com as câmeras porque gostava de olhar direto nos olhos das pessoas, e as câmaras representavam isso para ele.



Talentoso, irreverente, polêmico, ácido e dono de frases de efeito que “causavam” por onde eram proferidas, podia ser tudo, menos ignorado.

Foi eleito, em 2006, deputado federal pelo PR-SP, mudou-se para Brasília, foi polêmico e morreu sozinho, aos 71 anos, de uma parada cardíaca, em 2009.

Em Ubatuba mantinha uma casa para onde se refugiava dos holofotes. Atualmente há nela algumas peças do seu acervo pessoal, poucas mobílias e retratos de família, mas aparenta estado de abandono. Construída em área de preservação ambiental, o Ministério Público entrou na justiça com pedido para venda.


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