Moda e Cultura
Resgatando a História da Moda Brasileira: Clodovil Hernandes
Instituto Clodovil Hernandes em campanha para alocar acervo do
estilista
O curador do acervo de Clodovil
Hernandez, Vagner Carvalheiro, falou ontem, dia 16, sobre a importância de Clodovil Hernandez
para a moda brasileira e sobre o movimento para a concretização do espaço que
abrigará o Instituto que leva o nome do estilista. A entrevista aconteceu
durante a exposição Renda-se, evento
que acontece paralelamente ao SPFW, no espaço A Casa, museu do objeto
brasileiro.
Segundo Vagner, que é professor
no curso de Moda da ETEC José Rocha Mendes, do Centro Paula Souza, a
importância de Clodovil para a moda brasileira está na essência da criação do
estilista, que idealizou roupas atemporais, clássicas, além de produzir peças
com um acabamento impecável. Suas roupas dos anos 1970 continuam atualíssimas,
fugindo de tendências e imediatismos. Muitas vezes fazia roupas para clientes
exclusivas, para as quais criava de acordo com sua personalidade, sua história.
Ele capturava o clima da cliente e criava
dentro do seu estilo. Não eram roupas genéricas nem de coleções. Para Vagner, a grande diferença entre os estilistas daquela geração e o mundo
fashion de hoje é “ter e aparecer, mais do que ser”. Clodovil, assim como Dener
e Zuzu Angel, fazia parte do “ser”, daí sua importância inegável.
O curador do acervo de Clodovil Hernandes, Vagner Carvalheiro
O Instituto Clodovil Hernandez
foi fundado por Maurício Petiz, assessor pessoal de Clodovil e produtor de seu
último programa A casa é Sua. Para quem quiser conhecer mais sobre o Instituto,
pode consultar a página oficial no Facebook.
O Instituto, que ainda não tem
sede e está em fase de captação de recursos, deve ser alocado em São Paulo. Do acervo fazem parte
cerca de 50 vestidos, entre eles sete vestidos de noiva, além do vestido com o
qual foi o vencedor do Prêmio Agulhas de Ouro e peças de clientes que teve em
Brasília.
Clodovil Hernandes é um dos três grandes
nomes da história da moda no Brasil de uma geração que primou pela elegância,
criatividade e estilo. Começando em uma época em que a moda exclusiva era para
um público seletíssimo, Clodovil fez parte de um mundo restrito de uma moda
brasileira formada por poucos e renomados criadores que fizeram história, como
Dener Pamplona de Abreu e Zuzu Angel.
Cenas do passado de Eva, a bela e a fera
Clodovil assumiu seu lado
midiático e foi para a TV ainda nos anos 1970, no Programa 8 ou 800, da rede
Globo, respondendo perguntas sobre Dona Beja, sob a apresentação de Paulo
Gracindo. Clodovil não deixou sua participação por menos: angariou o prêmio
máximo.
Nos anos 80, participou do TV
Mulher. Inovador, foi o primeiro programa voltado para a mulher moderna no
mundo global pré Ana Maria Braga. Naquela época, a sexóloga Marta Suplicy
falava de sexo e mulher na televisão enquanto muitas donas de casa preparavam o
almoço (falar de sexo e direitos da mulher nos anos 80, era um tabu).
Participavam do programa, entre outros, Marília Gabriela, Ney Gonçalves Dias e Clodovil,
que desenhava ao vivo modelos para telespectadoras que escreviam cartas pedindo
modelos. Enquanto desenhava, falava de moda, do mundo fashion, dava dicas de
estilo, comentava cenas cotidianas. A abertura do programa, com música de Rita
Lee e Roberto de Carvalho - Cor de Rosa Choque, dava o clima do programa. Foi
nesse período que Clodovil deixou seu exclusivo mundo de agulhas, paetês e hight society para ficar conhecido do
grande público. E não parou mais.
No
mesmo período, apresentaria os programas “Clodovil” (Rede Bandeirantes - 1983),
“Manchete Shopping Show” (Rede Manchete - 1983/1985) e “Clô para os Íntimos”
(Rede Manchete - 1985-1988). Nos anos 90, no canal CNT, apresentou os
programas “Clodovil Frente e Verso” (1993/1994), “Clodovil em Noite de Gala”
(1993/1994) e “Retratos” (1995/1996). Na TV Gazeta, nos anos 2000, é a vez de
apresentar o programa “Mulheres”. Na RedeTV! apresentou o programa “A Tarde é
Sua”, em 2003
Sempre polêmico, falava o que
pensava com seu jeito característico de arregalar os olhos e olhar diretamente
para a câmera. Costumava dizer que lidava muito bem com as câmeras porque
gostava de olhar direto nos olhos das pessoas, e as câmaras representavam isso
para ele.
Talentoso, irreverente, polêmico,
ácido e dono de frases de efeito que “causavam” por onde eram proferidas,
podia ser tudo, menos ignorado.
Foi eleito, em 2006, deputado federal pelo PR-SP,
mudou-se para Brasília, foi polêmico e morreu sozinho, aos 71 anos, de uma
parada cardíaca, em 2009.
Em Ubatuba mantinha uma casa para
onde se refugiava dos holofotes. Atualmente há nela algumas peças do seu acervo
pessoal, poucas mobílias e retratos de família, mas aparenta estado de
abandono. Construída em área de preservação ambiental, o Ministério Público
entrou na justiça com pedido para venda.
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