Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Moda Étnica - Consumo Ético

            Por quê moda étnica? Porque é divertido jogar com a profusão de tramas, cores, estampas de lugares distantes e diferentes do nosso. Porque a roupa étnica lembra o conforto do algodão, a robustez do linho, a maciez da seda; a atração das estampas e padrões tão característicos de povos que, desde tempos imemoriais, trabalham o pano de forma artesanal, criando lindos tecidos, coloridos, geométricos, florais, animais, tornando de uma maneira simples e elegante as mulheres que muitas vezes só têm um pano colorido para enrolar no corpo e na cabeça.
            São muitas as etnias que me atraem em termos de composição de cores e estampas dos tecidos. Mas as  que mais gosto são as que remetem aos povos africanos, sejam eles do norte, centro ou sul.
            São as padronagens dos bubus da África Central, de algodão firme e com cores fortes e marcantes, que cobrem as belas e longilíneas mulheres daquela região que me fazem pensar sempre em conforto e beleza. O bubu representa o máximo de conforto para as mulheres quando confeccionado da forma simples de um retângulo; a elegância quando salienta as curvas e os dotes naturais das africanas, com recortes, babados e mangas bufantes; o aconchego da vida íntima quando ele é simplesmente enrolado ao redor do corpo. O despojamento das kamisolis do Mali, os caftans do Magreb.
            Também as estamparias animais, principalmente onça, leopardo, zebras, okapis, remetem a um universo de liberdade, de força e ao mesmo tempo, mistério. O leopardo tem uma longa história na tradição africana de magia que ultrapassa a lógica ocidental.
E para completar, os adereços em madeira, metal e pedras formam um conjunto com as roupas que dificilmente imagino tão harmônico e gostoso de usar como eles.
            Por quê consumo ético? Creio que um setor que tem alcance tão grande e em todas as camadas sociais como a moda é um espaço ideal para a reflexão sobre o nosso posicionamento diante da sociedade de consumo.
            Parece que foi ontem que os primeiros ativistas começaram uma campanha empertigada contra o uso de peles de animais na moda. Essa atitude polarizou a discussão e muitos não aceitavam o fato de terem que abdicar do seu vison em prol dos pobres ursos polares.
            Uma das divas mais famosas de todos os tempos, Brigite Bardot - inacreditavelmente transformada hoje em uma porta voz da direita francesa - foi pioneira na defesa dos animais abatidos para terem seu pelos fofos aproveitados pela indústria de casaco de peles. Sua campanha pelos bebês focas ganhou a mídia e muito se deve ela as incipientes tentativas de barrar esse mercado. Para aqueles que se não aceitam os argumentos dos defensores dos animais, que tal ter seu poodle escalpelado para fazer um bolerinho meia estação?
            Aqui você não encontrará: referências a cirurgias plásticas, implantações de silicones, aplicações de botox ou transformações radicais do corpo via bisturi. Nada contra quem se utiliza desses recursos, somente pelo fato de que esse não é o espaço que privilegia esses procedimentos.
            O foco da beleza vai sobre uma dieta sadia, colorida, balanceada, que agrega legumes frutas, cereais, verduras e carnes magras, ressaltando as valiosas contribuições da alimentação orgânica. Infelizmente ainda inacessível para a maior parte da população, seu uso, aliado a uma vida esportiva, traz benefícios inestimáveis à saúde. Portanto, assuntos como dança, nas suas mais diversas manifestações, esportes, a prática da yoga e relaxamento, acupuntura, medicina chinesa entram como grandes aliados para termos uma vida mais saudável e bela.
            A beleza procura ser vista através de uma tendência sobre uma mente que se ocupa, que reflete, que pensa. Não dá para falar em beleza em pessoas fúteis que não se comprometem com as grandes questões de sua época.

Uma interpretação dos bubus africanos
Durante o curso de Design de Moda, tivemos que apresentar uma roupa a partir de um tecido específico, o jeans. Minha ideia era criar algo que remetesse o conforto dos caftans - os bubus da África Central - aliada à estamparia de animal, tendência dos anos 2010, com uma pitada de brasilidade, expressa na renda de algodão cru. O tecido utilizado foi o jeans, tecido tema do trabalho, na cor cáqui. Ele foi estampado com motivos de pele de onça com tinta acrilex, aplicada através de um molde. Esse tom, por sua vez, faz referência a Yves Saint Laurent, que tinha grande atração pela África do Norte, a ponto de comprar uma propriedade em Marrakech, em 1980, chamada Jardin Majorelle, que transforma em moradia e ateliê, após empreender a restauração do lugar. Foi o estilista responsável, na década de 1970, pela introdução da roupa safári, um clássico até hoje, inspirado pela aventura a liberdade das savanas africanas. Os tons desse estilo são os terrosos, nude, marfim, laranja; o corte é reto, estruturado, lembrando a alfaiataria. São roupas utilitárias que inspiram conforto.
            Concluindo, a idéia é a de aproximação de povos que, se geograficamente estão distantes, no mundo globalizado acabam tornando-se próximos, mesmo porque não podemos nos esquecer que uma das vertentes da nossa cultura vem do outro lado do Oceano Atlântico: a África.



















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