Moda Étnica - Consumo Ético
Por quê moda étnica? Porque é
divertido jogar com a profusão de tramas, cores, estampas de lugares distantes
e diferentes do nosso. Porque a roupa étnica lembra o conforto do algodão, a
robustez do linho, a maciez da seda; a atração das estampas e padrões tão
característicos de povos que, desde tempos imemoriais, trabalham o pano de
forma artesanal, criando lindos tecidos, coloridos, geométricos, florais,
animais, tornando de uma maneira simples e elegante as mulheres que muitas
vezes só têm um pano colorido para enrolar no corpo e na cabeça.
São muitas as etnias que me atraem
em termos de composição de cores e estampas dos tecidos. Mas as que mais gosto são as que remetem aos povos
africanos, sejam eles do norte, centro ou sul.
São as padronagens dos bubus da
África Central, de algodão firme e com cores fortes e marcantes, que cobrem as
belas e longilíneas mulheres daquela região que me fazem pensar sempre em
conforto e beleza. O bubu representa o máximo de conforto para as mulheres
quando confeccionado da forma simples de um retângulo; a elegância quando
salienta as curvas e os dotes naturais das africanas, com recortes, babados e
mangas bufantes; o aconchego da vida íntima quando ele é simplesmente enrolado
ao redor do corpo. O despojamento das kamisolis do Mali, os caftans do Magreb.
Também as estamparias animais,
principalmente onça, leopardo, zebras, okapis, remetem a um universo de
liberdade, de força e ao mesmo tempo, mistério. O leopardo tem uma longa
história na tradição africana de magia que ultrapassa a lógica ocidental.
E para
completar, os adereços em madeira, metal e pedras formam um conjunto com as
roupas que dificilmente imagino tão harmônico e gostoso de usar como eles.
Por quê consumo ético? Creio que um
setor que tem alcance tão grande e em todas as camadas sociais como a moda é um
espaço ideal para a reflexão sobre o nosso posicionamento diante da sociedade
de consumo.
Parece que foi ontem que os
primeiros ativistas começaram uma campanha empertigada contra o uso de peles de
animais na moda. Essa atitude polarizou a discussão e muitos não aceitavam o
fato de terem que abdicar do seu vison em prol dos pobres ursos polares.
Uma das divas mais famosas de todos
os tempos, Brigite Bardot - inacreditavelmente transformada hoje em uma porta
voz da direita francesa - foi pioneira na defesa dos animais abatidos para
terem seu pelos fofos aproveitados pela indústria de casaco de peles. Sua
campanha pelos bebês focas ganhou a mídia e muito se deve ela as incipientes tentativas
de barrar esse mercado. Para aqueles que se não aceitam os argumentos dos
defensores dos animais, que tal ter seu poodle escalpelado para fazer um
bolerinho meia estação?
Aqui você não encontrará:
referências a cirurgias plásticas, implantações de silicones, aplicações de
botox ou transformações radicais do corpo via bisturi. Nada contra quem se
utiliza desses recursos, somente pelo fato de que esse não é o espaço que
privilegia esses procedimentos.
O foco da beleza vai sobre uma dieta
sadia, colorida, balanceada, que agrega legumes frutas, cereais, verduras e
carnes magras, ressaltando as valiosas contribuições da alimentação orgânica.
Infelizmente ainda inacessível para a maior parte da população, seu uso, aliado
a uma vida esportiva, traz benefícios inestimáveis à saúde. Portanto, assuntos
como dança, nas suas mais diversas manifestações, esportes, a prática da yoga e
relaxamento, acupuntura, medicina chinesa entram como grandes aliados para
termos uma vida mais saudável e bela.
A beleza procura ser vista através
de uma tendência sobre uma mente que se ocupa, que reflete, que pensa. Não dá
para falar em beleza em pessoas fúteis que não se comprometem com as grandes
questões de sua época.
Uma interpretação dos bubus africanos
Durante o curso de Design de Moda, tivemos que apresentar uma roupa a
partir de um tecido específico, o jeans. Minha ideia era criar algo que
remetesse o conforto dos caftans - os bubus da África Central - aliada à
estamparia de animal, tendência dos anos 2010, com uma pitada de brasilidade,
expressa na renda de algodão cru. O tecido utilizado foi o jeans, tecido tema
do trabalho, na cor cáqui. Ele foi estampado com motivos de pele de onça com
tinta acrilex, aplicada através de um molde. Esse tom, por sua vez, faz
referência a Yves Saint Laurent, que tinha grande atração pela África do Norte,
a ponto de comprar uma propriedade em Marrakech, em 1980, chamada Jardin
Majorelle, que transforma em moradia e ateliê, após empreender a restauração do
lugar. Foi o estilista responsável, na década de 1970, pela introdução da roupa
safári, um clássico até hoje, inspirado pela aventura a liberdade das savanas
africanas. Os tons desse estilo são os terrosos, nude, marfim, laranja; o corte
é reto, estruturado, lembrando a alfaiataria. São roupas utilitárias que
inspiram conforto.
Concluindo, a idéia é a de
aproximação de povos que, se geograficamente estão distantes, no mundo
globalizado acabam tornando-se próximos, mesmo porque não podemos nos esquecer
que uma das vertentes da nossa cultura vem do outro lado do Oceano Atlântico: a
África.
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