Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

domingo, 21 de agosto de 2016


08/08/16 - Às vezes queremos muito voltar, mas a volta só nos faz deparar com a crueza da percepção da decrepitude


O aeroporto, durante as décadas de 1970, 1980 e parte de 1990, foi o corpo e a alma de Itaituba. Tudo girava em torno dele. Alguns poderiam dizer: não, eram os garimpos. Os garimpos podem ter atraído uma grande parte de pessoas para a região, mas sem o aeroporto, seus aviões e as pessoas que se dispunham a transportar pessoas e mercadorias num vaivém incessante entre a cidade e os tantos garimpos, Itaituba não teria se tornado o que foi da noite para o dia.
Logo cedo, os pilotos se dirigiam pra lá. Os que não tinham carro, iam de carona, concentrados numa esquina da cidade a caminho do aeroporto. Este chegou a ser considerado o mais movimentado do mundo em pouso e decolagem, nos tempos gordos do movimento do ouro. Segundo meu pai, de manhã havia filas de aviões à espera do abastecimento. A pista foi asfaltada, o aeroporto ampliado, uma torre de controle construída, a sala de embarque reformada, a placa "Aeroporto de Itaituba" erguida no alto a estação, que tinha à sua frente uma simpática pracinha. Do outro lado, a Associação do Aeronautas do Vale do Tapajós, uma sede construída com o apoio de todos os aviadores.
No dia oito, de manhã, depois do café da manhã, fomos ao aeroporto. Eu estava ansiosa, desde a minha chegada, para voltar a vê-lo, ainda guardava imagens antigas dele. E foi uma tristeza. Quem conheceu aquele lugar no apogeu do seu movimento, mal podia crer naquele estado de abandono, desde a chegada: a placa Aeroporto de Itaituba não estava mais no alto do prédio da estação de passageiros; a sede da Associação, abandonada. Fomos saudados por um senhor risonho, velho conhecido, taxista do aeroporto há trinta anos e conhecido de todos. Ainda resiste em seu posto.
Entramos pela lateral, onde ficam os hangares e a sede do Táxi Aéreo. Debaixo da velha mangueira, um antigo aviador aguardava passageiros. Durante o tempo em ficamos lá, pouco mais de uma hora, um avião do Táxi Aéreo decolou em direção a Novo Progresso, cidade distante 300 quilômetros ao sul de Itaituba. Um avião de passageiros da Mapa (no site da empresa há um aviso que deixaram de operar em Itaituba, mas concretamente ainda faz a linha para Santarém e Manaus) pousou; e um outro avião, Cessna, decolou.
Foi triste ver aquele lugar tão efervescente no passado estar daquela maneira abandonado. A sensação de que muitas coisas interessantes que já foram construídas no nosso país, acabam caindo n decadência e abandono. Algo como as ferrovias, por exemplo.

 A antiga placa ainda dá as boas vindas aos visitantes,
na pracinha em frente à estação de passageiros
 Meu amigo Cebinho chegou enquanto estávamos lá: é inevitável, todos têm que dar uma passadinha  no aeroporto
 Como era a Associação na época em que foi fundada

 A placa da fundação, que hoje não está mais lá

 A sede como está hoje, fechada



 A Torre de controle ainda existe, mas sem uso
 Um orelhão-Marajoara

 
 A entrada da Estação de Passageiros
 Léo e o antigo taxista, ainda na ativa
 Hangar do Táxi Aéreo
 O aeroporto vazio, hoje









 É mesmo debaixo da mangueira que todos querem ficar

 Ao fundo, o avião de passageiros da Mapa chegando
  O "310" se preparando para decolar em direção a Novo Progresso

Um cajueiro solitário no caminho, com seu jeitão de árvore do cerrado.

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