Andréia T. Couto[4]
“El 28 de febrero de 1955 se
conoció la noticia de que ocho miembros de la tripulación del destructor
‘Caldas’, de la marina de guerra de Colômbia, habían caído al água y desaparecido a causa de uma tormenta em el
mar Caribe. La nave viajaba desde Móbile, Estados Unidos, donde había sido
sometida a reparaciones, hacia el puerto colombiano de Cartagena, a donde llegó
sin retraso dos horas después de la tragédia. La búsqueda de los náufragos se
inició de inmediato, com la colaboración de las fuerzas norteamericanas del Canal de Panamá, que
hacen ofícios de control militar y otras obras de caridad em el sur del Caribe.
Al cabo de cuatro dias se desistió de la búsqueda, y los marineros perdidos
fueron declarados oficialmente muertos. Uma semana más tarde, sin embargo, uno
de ellos apareció moribundo en uma playa desierta del norte de Colombia, después
de permanecer diez dias sin comer ni beber en uma balsa a la deriva. Se llamaba
Luis Alejandro Velasco. Este livro es uma reconstrucción periodística de lo que
él me contó, tal como fué publicada un mes despues del desastre por el diário
‘El Espectador’ de Bogotá”.
Assim tem início um dos livros
mais encantadores de Gabriel García Marques, Relato de un naufrago[5].
Jornalista, Marques trabalhou para jornais em Cartagena,
Barranquilla e depois no El Espectador de Bogotá; em Caracas e foi representante
da imprensa latino americana, através da agência cubana, para as Nações Unidas.
Estudioso de cinema, fez grandes trabalhos como
repórter e crítico de cinema; escritor, foi prêmio Nobel de Literatura
no ano de 1982, com o livro Cem anos de Solidão. Sua obra tem estreita ligação
com sua terra natal (nasceu no dia 6 de março de 1928
na aldeia de Aracataca – a Macondo a que se refere em Cem anos de solidão[6]),
o mar do Caribe e Cartagena de Índias, onde, aliás, ainda mantém uma
casa de onde pode observar, das janelas e varandas, o por do sol nas águas
caribenhas, atrás das muralhas da ‘ciudad vieja’. Impossível ler algumas obras
de García Marques sem remontar ao litoral caribenho de Cartagena, ponto de
chegada e partida de um dos portos mais importantes da América Latina e de onde
ele foi observar e buscar inspiração para suas histórias. E assim é igualmente
impossível visitar Cartagena sem pensar que ali, por entre as vielas da ‘cidade
amuralhada’, lá esteve por tantos anos vivendo e escrevendo seus artigos e
romances. Marques não vive mais em Cartagena, mas a ela retorna de tempos em tempos,
quem sabe para buscar mais inspiração para outro novo romance – o narrador de Memória de minhas putas tristes[7],
seu último romance, menciona Cartagena de Índias em seus relatos. García
Marques deixa sua marca como escritor não somente por ser um dos grandes nomes
da literatura mundial, mas também como um dos maiores representantes da
vertente literária denominada “realismo mágico” ou “realismo fantástico”.
Uma caminhada por entre as estreitas
ruas da cidade velha de Cartagena remete imediatamente aos relatos de Marques.
Única cidade a conservar intacta as muralhas ao seu redor, a velha Cartagena
abriga em seu interior, lindamente preservado o casario do século XVI,
representante ímpar e mais bem conservado do estilo colonial espanhol dos
sobradões com sacadas. Ao entrar na cidade velha através da Porta do Relógio, a
impressão é de atravessar cinco séculos de história: o choque é imediato. Mas
não se pode deixar levar pelas primeiras impressões dessa travessia, quando se
cai diretamente na parte mais popular da cidade amuralhada, com seu mercado, as
ruelas apinhadas de gente e vendedores ambulantes, que vendem todo tipo de quinquilharias,
artigos artesanais para turistas, até as coloridas frutas tropicais. À medida
que se avança pelas ruas, em direção à outra entrada da muralha, pela avenida à
beira mar, começa a surgir o outro lado da cidade velha, tão atraente quanto o
primeiro, mas agora com um aspecto mais sofisticado: restaurantes típicos da
culinária creole, da cozinha cubana, espanhola, italiana; joalherias com
esmeraldas para todos os olhares e bolsos; lojas de artesanato indígena, butiques,
cafés, livrarias – duas especialmente simpáticas e aconchegantes, sendo que uma
delas oferece o privilégio de folhear um livro da sacada do café em frente ao
mar. Cartagena é isso, duas cidades em uma: a cidade moderna, cosmopolita, com
altos edifícios, onde funciona a parte comercial, com hotéis cinco estrelas, as
praias lotadas em época de temporada, principal destino turístico dos
colombianos; e a cidade velha, cercada e protegida pela muralha, iniciada em
1586, sendo concluída em 1796, uma lembrança da época dos bucaneiros que
navegavam pelo Caribe em tempos remotos. Ainda estão lá, voltados para o mar,
ameaçadores canhões a proteger a pequenina cidade. Para complementar a
proteção, igrejas e mais igrejas, todas muito conservadas, do período colonial.
A Catedral possui a pequena janela onde os delatores deixavam suas mensagens
para os encarregados da Inquisição. Há também o Palácio da Inquisição, onde
eram julgados os delitos contra a igreja católica. Não se pode também deixar de
visitar os museus, principalmente o Museo del oro y Arqueologia, o Museo de
Arte Moderno, o Naval, entre outros. Caminhar sobre as muralhas – é possível
fazer isso em toda a sua extensão, parando de tempo em tempo para apreciar o
mar, tomando um drinque no Café del Mar, com cadeiras rentes à muralha, ao som
de música trance, vendo o por do sol, é uma glória. São muitas as atrações
dessa cidade secular, um lugar para apreciar com tempo, se possível no verão,
para aproveitar a praia e as ilhas próximas, Rosário, San Andrés...ou
simplesmente tomar sol, caminhar e aproveitar as delícias da cozinha colombiana
e da hospitalidade dos sorridentes caribenhos.
[1] Gabriel
García Marques. Textos do Caribe - Volume 1 e 2. Editora RCB, 1987.
[2] Gabriel
García Marques. O amor nos tempos do cólera. Rio de Janeiro: Record, 1985.
[3] Gabriel
García Marques. Do Amor e Outros Demônios. Rio de Janeiro: Record, 1994.
[4]
Professora dos cursos de Letras e Jornalismo da Universidade Paulista. atcouto
@hotmail.com
[5]
Gabriel García Marques. Relato de um
naufrago. Bogotá: El Oveja Negra, 1970.
[6] Gabriel
García Marques. Cien años de soledad.
Barcelona: Ed. Argos Vergara, 1981.
[7] Gabriel
García Marques. Memória de minhas putas
tristes. Rio de Janeiro: Record, 2005.
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