Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

domingo, 8 de março de 2015

Para ler no Dia Internacional da Mulher

Para ler no Dia Internacional da Mulher

A Argélia, ex colônia francesa, se debate desde o fim da colonização entre assumir suas origens árabes e levar adiante as reformas conservadoras em direção aos seus costumes e na adoção de um Estado atrelado à religião (97% da população se declara muçulmana) ou adotar um Estado laico e viver aos moldes ocidentais.
País francofônico, desde o desmonte da colonização já enviou à França incontáveis argelinos à França e seus descendentes estão longe de receberem um tratamento igualitário. 
As mulheres ainda sofrem para terem seus direitos mínimos assegurados, uma vez que  o sistema legal do País seja baseado nas leis francesa e islâmica, essa última prevalecendo sempre que se trata dos direitos das mulheres.
Abaixo está um texto publicado no Le Monde de 06 de março sobre uma nova investida sobre o direito feminino.

http://www.algerie-focus.com/blog/2015/03/non-tu-nes-coupable-de-mavoir-excite/

 

O Le Monde publica texto de Abdou Semmar, editorialista da revista  eletrônica Algerie Focus, a propósito de um projeto aprovado pelo Parlamento argelino sobre violência contra as mulheres. Para muitos, vai contra os preceitos da charia, e querem acrescentar um dispositivo que penaliza as mulheres vestidas em saia ou jeans, mulheres que saem às ruas de maneira provocante. Isso acendeu a cólera de Semmar, que escreveu  o editorial « Não, você não tem culpa de ter me excitado », que por sua vez provocou inúmeras reações dos conservadores.

Em uma tradução livre, o texto diz mais ou menos o seguinte:

« Não, você não tem culpa de ter me excitado »

“Sou um homem. Sou um argelino, como todos os outros que povoam esse país bizarro chamado Argélia. Sou um homem argelino como tantos outros que existem em nosso país. Mas sou um homem que recusa culpabilizar a mulher que sai às ruas desfilando sua beleza ou sua feminilidade”.
Continua dizendo que, mesmo que isso não agrade aos seus congêneres, não se sente chocado nem terrificado quando uma mulher, jovem ou adulta,  passa ao seu lado na rua vestindo um jeans ou uma saia, mesmo se essa saia seja considerada muito ou pouco curta. Não fica terrificado quando uma mulher atrai seu olhar na rua porque ela é bonita ou charmosa, tampouco se sente um monstro quando uma mulher o atrai porque suas roupas ressaltam sua beleza.
“Amo a beleza da mulher porque amo a vida. A beleza de uma mulher é para mim uma promessa de felicidade. E desejo viver feliz. Não tenho pesadelos e não grito ou faço escândalo porque uma mulher suscitou em mim um desejo ou uma pulsação. E portanto, sou tão argelino quanto esses deputados  que querem impor  uma lei penalizando as mulheres acusadas de se vestir de maneira “provocante”. Onde está a provocação quando uma mulher coloca um vestido, uma saia ou um jeans? Amar a beleza, respeitá-la, desejá-la não parece em nada vergonhoso como acreditam esses deputados e outros argelinos”.
(...)
Esse tipo de atitude obscurece a lucidez de muitos dos meus compatriotas. E eu, eu sou um homem argelino e não compreendo porque um homem fica necessariamente excitado assim que percebe uma ínfima parte do corpo de uma mulher. Sim, eu sou, portanto, um homem argelino, e eu não acuso uma mulher de ter me excitado. Sou um homem argelino e consigo perfeitamente me controlar, gerir meus baixos instintos sem ter que violar. Não tenho necessidade de uma lei para me proteger dos meus impulsos. Sou suficiente maduro para legislar sobre minha sexualidade.

Creio sinceramente que nossos deputados generosamente pagos devem me proteger de outros flagelos que de fato assolam meu país. (...)Sou um homem argelino e penso sinceramente que uma mulher não poderá jamais ser culpada por ter me excitado”.


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