Para ler no Dia Internacional
da Mulher
A Argélia, ex colônia francesa, se debate desde o fim da
colonização entre assumir suas origens árabes e levar adiante as reformas
conservadoras em direção aos seus costumes e na adoção de um Estado atrelado à
religião (97% da população se declara muçulmana) ou adotar um Estado laico e
viver aos moldes ocidentais.
País francofônico, desde o desmonte da colonização já
enviou à França incontáveis argelinos à França e seus descendentes estão longe
de receberem um tratamento igualitário.
As mulheres ainda sofrem para terem seus direitos mínimos
assegurados, uma vez que o sistema legal
do País seja baseado nas leis francesa e islâmica, essa última prevalecendo
sempre que se trata dos direitos das mulheres.
Abaixo está um texto publicado no Le Monde de 06 de março
sobre uma nova investida sobre o direito feminino.
Le Monde.fr Le 06.03.2015 à 10h25 • Mis à jour le 06.03.2015 à 11h00 http://www.lemonde.fr/afrique/article/2015/03/06/non-tu-n-es-pas-coupable-de-m-avoir-excite_4588608_3212.html#UQPKUs0Z9oZ6Dj7A.99
http://www.algerie-focus.com/blog/2015/03/non-tu-nes-coupable-de-mavoir-excite/
O Le
Monde publica texto de Abdou Semmar, editorialista da revista eletrônica Algerie Focus, a propósito de um
projeto aprovado pelo Parlamento argelino sobre violência contra as mulheres.
Para muitos, vai contra os preceitos da charia, e querem acrescentar um
dispositivo que penaliza as mulheres vestidas em saia ou jeans, mulheres que
saem às ruas de maneira provocante. Isso acendeu a cólera de Semmar, que
escreveu o editorial « Não, você
não tem culpa de ter me excitado », que por sua vez provocou inúmeras
reações dos conservadores.
Em uma tradução livre, o texto diz mais ou menos o seguinte:
« Não, você não tem culpa de ter me excitado »
“Sou
um homem. Sou um argelino, como todos os outros que povoam esse país bizarro
chamado Argélia. Sou um homem argelino como tantos outros que existem em nosso
país. Mas sou um homem que recusa culpabilizar a mulher que sai às ruas
desfilando sua beleza ou sua feminilidade”.
Continua
dizendo que, mesmo que isso não agrade aos seus congêneres, não se sente
chocado nem terrificado quando uma mulher, jovem ou adulta, passa ao seu lado na rua vestindo um jeans ou
uma saia, mesmo se essa saia seja considerada muito ou pouco curta. Não fica
terrificado quando uma mulher atrai seu olhar na rua porque ela é bonita ou
charmosa, tampouco se sente um monstro quando uma mulher o atrai porque suas
roupas ressaltam sua beleza.
“Amo
a beleza da mulher porque amo a vida. A beleza de uma mulher é para mim uma
promessa de felicidade. E desejo viver feliz. Não tenho pesadelos e não grito
ou faço escândalo porque uma mulher suscitou em mim um desejo ou uma pulsação.
E portanto, sou tão argelino quanto esses deputados que querem impor uma lei penalizando as mulheres acusadas de
se vestir de maneira “provocante”. Onde está a provocação quando uma mulher
coloca um vestido, uma saia ou um jeans? Amar a beleza, respeitá-la, desejá-la
não parece em nada vergonhoso como acreditam esses deputados e outros argelinos”.
(...)
Esse
tipo de atitude obscurece a lucidez de muitos dos meus compatriotas. E eu, eu
sou um homem argelino e não compreendo porque um homem fica necessariamente
excitado assim que percebe uma ínfima parte do corpo de uma mulher. Sim, eu
sou, portanto, um homem argelino, e eu não acuso uma mulher de ter me excitado.
Sou um homem argelino e consigo perfeitamente me controlar, gerir meus baixos
instintos sem ter que violar. Não tenho necessidade de uma lei para me proteger
dos meus impulsos. Sou suficiente maduro para legislar sobre minha sexualidade.
Creio
sinceramente que nossos deputados generosamente pagos devem me proteger de
outros flagelos que de fato assolam meu país. (...)Sou um homem argelino e
penso sinceramente que uma mulher não poderá jamais ser culpada por ter me
excitado”.
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