Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

terça-feira, 31 de março de 2015

Textos da Revista Griffe

(viagem)
Durban, o primeiro contato com o Reino Zulu
A partir dessa cidade moderna e tradicional, descortina-se a herança das tradições zulu. Sanibonani! *

Em um momento em que o Brasil estreita o contato com o continente africano, a África do Sul tem estado na rota quase que obrigatória desse caminho. Primeiro por uma questão estratégica, uma vez que a maneira mais rápida para se chegar hoje à África, principalmente para quem sai das regiões sul e sudeste, é partir para Johannesburgo. De lá, toma-se o destino para inúmeras rotas dentro do vasto continente que, malgrado nossas raízes históricas, é ainda muito desconhecido para grande parte dos brasileiros. Segundo, porque o Brasil começa a perceber que não muito distante – apenas sete horas de vôo entre São Paulo-Johannesburgo - encontra-se um país extremamente interessante e acessível. A começar pelo fato de nós, brasileiros, não precisarmos de visto para entrarmos na África do Sul. Pouco a pouco o Brasil começa a se interessar pelo vizinho do outro lado do Atlântico.
No caminho de volta de Ruanda, fiquei alguns dias na África do Sul. Como não tinha a menor idéia do que encontraria pela frente, me informei no hotel em que estava hospedada em Johannesburgo como faria para chegar até Durban e onde ficar. O próprio hotel fez a reserva e compra do bilhete de ônibus e o motorista do hotel me levou até a estação – tudo isso cortesia do hotel. Detalhe: o trajeto entre o Nest Dove Hotel, uma simpática pousada a cinco minutos do Aeroporto Internacional de Johannesburgo, e o Park Station, no centro da cidade, demora cerca de 40 minutos. Mas por lá é assim: os hotéis oferecem serviços grátis de translado para aeroporto, estações de ônibus, levam os hóspedes até casas de câmbio ou para comprar passagens, embora os táxis não sejam caros, nem cobrem preços diferencias para turistas. Nesse ponto segue-se uma observação importante: o povo da África do Sul é muito simpático. Há um lema por lá que diz: “Sorria sempre. O sul-africano aprecia muito os gestos de gentileza”. E assim é: um “bom dia!” com sorriso e você é tratado com simpatia e cortesia por todos. 
Durban está localizada a 500 quilômetros de Johannesburgo e sete horas de viagem de ônibus. Dependendo do preço, que não varia muito, pode-se pegar um ônibus melhor e direto entre as duas cidades. A chegada a Durban, nas primeiras horas do dia, foi incerta: para onde ir? Por onde começar a procurar? Diante da estação de ônibus, vi um Íbis Hotel, e fui tomar as primeiras informações. O porteiro, um congolês de Bukavu, cidade que eu havia visitado no Congo no ano anterior, ficou feliz em saber que eu conhecia sua cidade natal e me indicou o mais conhecido albergue de Durban, para onde se dirigiam, segundo ele, todos os mochileiros que chegam à cidade: o Banana´s Backpakers, na Embassador House. Me colocou no táxi com a recomendação, diante do motorista, de que eu não deveria pagar mais que 30 rands. Na chegada ao albergue, paguei 50.
            A África do Sul é um país que parece ter sido organizado para se fazer turismo: a infra-estrutura turística é impecável, a rede hoteleira imensa, para todos os gostos e bolsos: desde de admiráveis hotéis cinco estrelas, em suas principais cidades e pontos estratégicos de beleza natural, como seus grandes Parques Nacionais – o mais famoso é o Krueger Park, mas muitos outros espalhados pelo país, até as inúmeras possibilidades de escolhas para aqueles que planejam uma viagem mais descontraída e com modestos recursos financeiros: os albergues da juventude são simpáticos, limpos e agradáveis e ainda se pode conhecer pessoas do mundo inteiro. O Banana´s Backpackers, onde fiquei, organiza excursões para variados locais, desde próximos a Durban até para outros países vizinhos, como Moçambique, Lesoto, Botswana, Namíbia. Também oferece diferentes opções de viagens para todos os bolsos: de ônibus, carros alugados, de avião. E o melhor: para os brasileiros, o câmbio está bastante favorável – um real vale no câmbio oficial cerca de 5,6 ZAR (Zouth African Rands, na língua africâner), além de ser um país de custo relativamente barato. O turista deve guardar os recibos de tudo o que comprar, pois no final da viagem, no aeroporto, pode ter de volta o que lhe foi cobrado de imposto.
São muitos os encantos da cidade, desde os atrativos noturnos de bares, boates, restaurantes aos programas para quem gosta de esportes. Durban oferece a possibilidade de mergulhos, caminhadas, rafting, trekking, surf, pescarias, passeios e contatos com a cultura zulu. O Aquarium uShaka Marine World é um Aquário situado na orla de onde se pode apreciar (!) bem de perto imensos tubarões brancos.
A cidade, a maior da Província de KwaZulu-Natal, situada de frente para o Oceano Índico, é um exemplo da grande diversidade cultural existente por aqueles lados. Abriga o maior porto da África, localizado em Bay of Natal e por ali chegam e saem navios em direção a todos os oceanos. É a porta de entrada de muitos povos, que aportam em Durban trazendo suas roupas típicas, seus temperos estrangeiros expressos em uma culinária desconhecida e atrativa. Nas ruas da cidade, em grandes praças, ao lado de tendas de roupas, artesanato e utensílios, pode-se provar das delícias preparadas principalmente por indianos, ao longo da Ajmeri Arcade, na Grey Street. Como uma cidade dinâmica e organizada, o centro abriga edifícios elegantes do início do século XX, como o City Hall, circundado por prédios de arquitetura moderna. A orla marítima é agradável e limpa e na parte mais movimentada, uma extensa feira de artesanato local, que lembra as nossas feiras hippies das cidades litorâneas. A avenida que acompanha a praia é repleta de grandes hotéis acondicionados em edifícios envidraçados que se abrem para o mar. Bares, restaurantes e cafés fazem a delícia dos turistas ociosos que podem se dar ao luxo de ficar horas sentados observando o desfile de culturas que passa diante dos olhos: mulheres cobertas por burkas negras, sem ao menos deixar os olhos à vista (sob um sol de 32 graus!), acompanham suas crianças à praia, passando ao lado de turistas européias que tomam sol de top less. Os indianos e árabes são parte considerável da população, sempre vestidos como em suas terras de origem.
O Workshop é um grande mercado localizado na região central onde, além das muitas lojas de alimentos e temperos, pode-se encontrar lojas de artesanatos de grande parte do continente, desde os mais singelos, em madeira ou de palha, até imensas girafas esculpidas em madeira. Trazer uma “lembrança” dessas para o Brasil só se for despachada em um container – serviço que os donos das lojas já incluem no preço do objeto e fazem todo o translado das esculturas. Ao lado do Wokshop, no prédio do Tourism Jounction, um centro de artesanato com os objetos mais típicos produzidos pelos povos da África do Sul, desde cerâmicas, esculturas em madeira, máscaras indígenas, bordados, uma infinidade de artigos refinados e coloridos. O artesanato  tradicional é produzido à maneira antiga e os trabalhos de tecelagem, que recobrem cestos, tigelas e esteiras são feitos com uma combinação enorme de cores. O trabalho feito de contas da arte zulu tem uma história tradicional muito interessante, cada objeto coberto com diferentes combinações de cores tem significados diferentes, pois entre as mulheres Zulu, a elaboração de um trabalho de tecelagem colorido, pode deixar alguma mensagem de amor, ciúme ou desgosto na sua criação. Por exemplo, uma conta branca (ithambo) representa amor; uma conta negra (isitimane) significa desgosto, solidão e desapontamento, enquanto que uma conta verde (ululaza) implica ciúme ou paixão.



* Benvindo
Minhas companheiras da tanzãnia e da Irlanda no Banana´s Hostel, em Durban

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