(viagem)
Durban, o primeiro contato com o Reino
Zulu
A partir dessa cidade moderna e
tradicional, descortina-se a herança das tradições zulu. Sanibonani! *
Em um momento em que o Brasil estreita
o contato com o continente africano, a África do Sul tem estado na rota quase
que obrigatória desse caminho. Primeiro por uma questão estratégica, uma vez
que a maneira mais rápida para se chegar hoje à África, principalmente para quem
sai das regiões sul e sudeste, é partir para Johannesburgo. De lá, toma-se o
destino para inúmeras rotas dentro do vasto continente que, malgrado nossas
raízes históricas, é ainda muito desconhecido para grande parte dos brasileiros.
Segundo, porque o Brasil começa a perceber que não muito distante – apenas sete
horas de vôo entre São Paulo-Johannesburgo - encontra-se um país extremamente
interessante e acessível. A começar pelo fato de nós, brasileiros, não
precisarmos de visto para entrarmos na África do Sul. Pouco a pouco o Brasil
começa a se interessar pelo vizinho do outro lado do Atlântico.
No caminho de volta de Ruanda,
fiquei alguns dias na África do Sul. Como não tinha a menor idéia do que
encontraria pela frente, me informei no hotel em que estava hospedada em
Johannesburgo como faria para chegar até Durban e onde ficar. O próprio hotel
fez a reserva e compra do bilhete de ônibus e o motorista do hotel me levou até
a estação – tudo isso cortesia do hotel. Detalhe: o trajeto entre o Nest Dove
Hotel, uma simpática pousada a cinco minutos do Aeroporto Internacional de
Johannesburgo, e o Park Station, no centro da cidade, demora cerca de 40
minutos. Mas por lá é assim: os hotéis oferecem serviços grátis de translado
para aeroporto, estações de ônibus, levam os hóspedes até casas de câmbio ou
para comprar passagens, embora os táxis não sejam caros, nem cobrem preços
diferencias para turistas. Nesse ponto segue-se uma observação importante: o
povo da África do Sul é muito simpático. Há um lema por lá que diz: “Sorria
sempre. O sul-africano aprecia muito os gestos de gentileza”. E assim é: um “bom
dia!” com sorriso e você é tratado com simpatia e cortesia por todos.
Durban está localizada a 500
quilômetros de Johannesburgo e sete horas de viagem de ônibus. Dependendo do
preço, que não varia muito, pode-se pegar um ônibus melhor e direto entre as
duas cidades. A chegada a Durban, nas primeiras horas do dia, foi incerta: para
onde ir? Por onde começar a procurar? Diante da estação de ônibus, vi um Íbis
Hotel, e fui tomar as primeiras informações. O porteiro, um congolês de Bukavu,
cidade que eu havia visitado no Congo no ano anterior, ficou feliz em saber que
eu conhecia sua cidade natal e me indicou o mais conhecido albergue de Durban,
para onde se dirigiam, segundo ele, todos os mochileiros que chegam à cidade: o
Banana´s Backpakers, na Embassador House. Me colocou no táxi com a
recomendação, diante do motorista, de que eu não deveria pagar mais que 30
rands. Na chegada ao albergue, paguei 50.
A
África do Sul é um país que parece ter sido organizado para se fazer turismo: a
infra-estrutura turística é impecável, a rede hoteleira imensa, para todos os
gostos e bolsos: desde de admiráveis hotéis cinco estrelas, em suas principais
cidades e pontos estratégicos de beleza natural, como seus grandes Parques
Nacionais – o mais famoso é o Krueger Park, mas muitos outros espalhados pelo
país, até as inúmeras possibilidades de escolhas para aqueles que planejam uma
viagem mais descontraída e com modestos recursos financeiros: os albergues da
juventude são simpáticos, limpos e agradáveis e ainda se pode conhecer pessoas
do mundo inteiro. O Banana´s Backpackers, onde fiquei, organiza excursões para
variados locais, desde próximos a Durban até para outros países vizinhos, como
Moçambique, Lesoto, Botswana, Namíbia. Também oferece diferentes opções de viagens
para todos os bolsos: de ônibus, carros alugados, de avião. E o melhor: para os
brasileiros, o câmbio está bastante favorável – um real vale no câmbio oficial
cerca de 5,6 ZAR (Zouth African Rands, na língua africâner), além de ser um
país de custo relativamente barato. O turista deve guardar os recibos de tudo o
que comprar, pois no final da viagem, no aeroporto, pode ter de volta o que lhe
foi cobrado de imposto.
São muitos os encantos da cidade,
desde os atrativos noturnos de bares, boates, restaurantes aos programas para
quem gosta de esportes. Durban oferece a possibilidade de mergulhos,
caminhadas, rafting, trekking, surf, pescarias, passeios e contatos com a
cultura zulu. O Aquarium uShaka Marine World é um Aquário situado na orla de
onde se pode apreciar (!) bem de perto imensos tubarões brancos.
A cidade, a maior da Província de
KwaZulu-Natal, situada de frente para o Oceano Índico, é um exemplo da grande diversidade
cultural existente por aqueles lados. Abriga o maior porto da África, localizado
em Bay of Natal e por ali chegam e saem navios em direção a todos os oceanos. É
a porta de entrada de muitos povos, que aportam em Durban trazendo suas roupas
típicas, seus temperos estrangeiros expressos em uma culinária desconhecida e
atrativa. Nas ruas da cidade, em grandes praças, ao lado de tendas de roupas,
artesanato e utensílios, pode-se provar das delícias preparadas principalmente
por indianos, ao longo da Ajmeri Arcade, na Grey Street. Como uma cidade
dinâmica e organizada, o centro abriga edifícios elegantes do início do século
XX, como o City Hall, circundado por prédios de arquitetura moderna. A orla
marítima é agradável e limpa e na parte mais movimentada, uma extensa feira de
artesanato local, que lembra as nossas feiras hippies das cidades litorâneas. A
avenida que acompanha a praia é repleta de grandes hotéis acondicionados em
edifícios envidraçados que se abrem para o mar. Bares, restaurantes e cafés
fazem a delícia dos turistas ociosos que podem se dar ao luxo de ficar horas
sentados observando o desfile de culturas que passa diante dos olhos: mulheres
cobertas por burkas negras, sem ao menos deixar os olhos à vista (sob um sol de
32 graus!), acompanham suas crianças à praia, passando ao lado de turistas
européias que tomam sol de top less. Os indianos e árabes são parte
considerável da população, sempre vestidos como em suas terras de origem.
O Workshop é um grande mercado
localizado na região central onde, além das muitas lojas de alimentos e
temperos, pode-se encontrar lojas de artesanatos de grande parte do continente,
desde os mais singelos, em madeira ou de palha, até imensas girafas esculpidas
em madeira. Trazer uma “lembrança” dessas para o Brasil só se for despachada em
um container – serviço que os donos das lojas já incluem no preço do objeto e
fazem todo o translado das esculturas. Ao lado do Wokshop, no prédio do Tourism
Jounction, um centro de artesanato com os objetos mais típicos produzidos pelos
povos da África do Sul, desde cerâmicas, esculturas em madeira, máscaras indígenas,
bordados, uma infinidade de artigos refinados e coloridos. O artesanato tradicional é produzido à maneira antiga e os
trabalhos de tecelagem, que recobrem cestos, tigelas e esteiras são feitos com
uma combinação enorme de cores. O trabalho feito de contas da arte zulu tem uma
história tradicional muito interessante, cada objeto coberto com diferentes
combinações de cores tem significados diferentes, pois entre as mulheres Zulu,
a elaboração de um trabalho de tecelagem colorido, pode deixar alguma mensagem
de amor, ciúme ou desgosto na sua criação. Por exemplo, uma conta branca
(ithambo) representa amor; uma conta negra (isitimane) significa desgosto,
solidão e desapontamento, enquanto que uma conta verde (ululaza) implica ciúme
ou paixão.
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