Resenha
O Reino e o poder
O livro aborda a história de um
dos veículos mais importantes da imprensa mundial de todos os tempos - o New York Times.
Dono de um estilo inconfundível,
Talese utiliza as histórias de vida de seu fundador, Adolph Ochs e de seus
colaboradores para compor um painel que
vai de 1851 - ano da fundação do jornal, mas ainda nas mãos de seu antigo fundador
(Ochs o adquire em 1896, por 75 mil dólares!) à década de 1960 do século 20.
São inúmeros personagens que vão
surgindo aos olhos dos leitores, em uma profusão de atividades, perfis,
comportamentos. Alguns são apenas mencionados, outros surgem em alguns
parágrafos, outros ainda em várias páginas, mas alguns atravessam o livro como
fios condutores não só da história, mas do próprio jornal. É o caso, por
exemplo, de Clifton Daniel, Harrison Salisbury, Orvil Dryfoos, James Reston, Sydney Gruson, Arthur
Krock, Lester Markel e, é claro, seu fundador, Adolph Ochs, sua filha Iphigene
Ochs, depois Iphigene Ochs Sultzberger, Arthur Hays Sultzberger, seu marido e Publisher após a morte de Adolph e
Arthur Ochs Sulzberger, seu filho e Publisher
após a morte do pai. Nessa tarefa hercúlea, Talese vasculhou arquivos do
jornal, arquivos pessoais da família Ochs, ouviu colegas de redação, coletou
depoimentos, leu, pesquisou, observou. Funcionário da casa ele mesmo, tem em
seu vasto currículo importantes matérias, algumas delas descritas em outros
livros memoráveis de sua autoria, Vida
de escritor e Fama e anonimato. Como jornalista do New York Times, Talese cobriu a marcha de Martin Luther King no sul
dos Estados Unidos, em dos momentos incendiários da luta dos negros norte
americanos por seus direitos. Talese tem ainda em seu currículo o fato de ser
um dos pesos pesados do new journalism,
em uma galeria na qual figuram Norman Mailer, Tom Wof, entre outros.
O ponto de partida e fio condutor
é o próprio fundador do jornal - um sulista simples, que desde cedo começou a
trabalhar no ambiente da imprensa, um pequeno jornal do sul chamado Chatanooga Times e em nenhum momento se
desviou daquilo que considerava o seu propósito - dar sua vida, seu trabalho
para o que mais e melhor sabia fazer: jornalismo.
Ochs encarna o self made man norte americano em todas
as suas características: começa varrendo chão do Knoxville Chronicle aos catorze anos, foi Office-boy desse mesmo
jornal quando, em 1872, candidatou-se a um emprego em tempo integral e foi
admitido para essa função, decidindo que os jornais seriam sua vocação de vida.
O slogan de sua criação - Todas as notícias dignas de publicar -
ficou para sempre como a marca registrada do New York Times.
Centralizador, correto, com
enorme talento para não criar inimizades políticas e ser o mais isento
possível, com faro para reconhecer o que, em sua época, deveria ser veiculado
para atender ao gosto dos seus leitores sem ofender ninguém, conduziu sua
empresa até o dia de sua morte. Tido como um dos homens mais influentes de seu
tempo, passou a empresa para o genro, que por sua vez a repassou para o seu
filho, permanecendo o jornal nas mãos da família atravessando mais de um
século.
A história contada por Talese nos
remete a momentos inebriantes - e que hoje vão longe - da história do
jornalismo. São tempos imemoriais, de redações apinhadas de gente, enfumaçadas,
presentes de profissionais que hoje já nem existem mais. Conta momentos
gloriosos de grandes correspondentes internacionais, seus contatos, suas fontes
influentes, eles mesmos se confundindo com o poder. O título, muito apropriado,
remete ao amálgama que muitas vezes une, confunde aquele que gera a notícia e
aquele que a produz. Mostra, com o virar das páginas, os pontos nevrálgicos da
história mundial do século vinte e como foi a cobertura do jornal sobre os
principais eventos que marcaram suas épocas.
Leitura obrigatória para os que
amam o jornalismo e principalmente seu passado de glória.
O Reino e o Poder - Gay Talese.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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