Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sinopse do livro O lutador



Narrativa em primeira pessoa de um obscuro e tímido professor de literatura, a partir de algumas impressões sobre sua vida de privações e sonhos não realizados. No intervalo de 24 horas, leva o leitor a conhecer seus desejos e frustrações, em meio a fantásticas viagens imaginárias e experiências literárias vividas por ele através de Verônica, seu alter ego. Pressionado por sua rotina massacrante, rememora tudo o que não fez – sonhava, quando jovem, ser diplomata e viajar pelo mundo, mas sua origem modesta encerrou ainda cedo essa possibilidade – e fala do que ainda planeja fazer. Enquanto professor, é medíocre e reacionário, vive modestamente acalentando a possibilidade de um dia ser um grande escritor. Mas por incapacidade e insegurança, nunca conseguiu traçar uma página sequer. Vê tudo transformar-se com a chegada de Verônica: ela o encoraja a escrever e a refletir sobre seus desejos e medos, frustrações, sonhos literários. Com ela, sente-se seguro, confiante para ousar ir onde jamais poderia imaginar.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Livro-reportagem

Livro-reportagem

Pensar novos formatos, novas situações, temas inéditos e interessantes. Para as turmas do sétimo semestre de jornalismo é hora de começar a preparar os projetos e colocar em prática tudo o que viram até agora e fazer nascer o produto jornalístico.

Aí está uma lista - ainda que pequena - de livros-reportagem de leitura obrigatória.

ALLEG, Henri. SOS América! Lisboa: Caminho, 1987.
ALMEIDA Filho, Hamilton. A sangue quente: a morte do jornalista Vladimir Herzog. São Paulo: Alfa-Omega, s/d.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida. São Paulo: Cultura, 1978.
BURGIERMAN, Denis Russo. Piratas no fim do mundo: o diário de uma viagem à Antártida para afundar baleeiros. São Paulo: Super Interessante e Abril, 2003.
CALDEIRA, Jorge. Ronaldo: Glória e drama do futebol globalizado. Rio de Janeiro e São Paulo: Lance! Editorial e Editora 34, 2002.
CAPOTE, T. A sangue frio. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
CASTRO, Ruy. Estrela solitária. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CAVALCANTI, Klester. Direto da selva: as aventuras de um repórter na Amazônia. São Paulo: Geração Editorial, 2002.
COUTO, A. T. O país das mil colinas. Curitiba: Appris, 2013.
CUNHA, E. da. Os sertões. São Paulo: Abril, 1982.
DORNELES, Carlos – Bar Bordega, Um Crime de Imprensa - Editora Globo – 2007 – 1ª Edição 
ENZENSBERGER, Hans Magnus. A outra Europa. São Paulo: Companhia das Letras, 1998
FIGUEIREDO, Lucas – Morcegos Negros – Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
GASPARI, Elio. A Ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GODWIN, P. Quando um crocodilo engole o sol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
GOMES, Laurentino – 1808 – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.
HATZFELD, J. Uma temporada de facões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
HERSEY, J. Hiroshima. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
KAPUSCINSKI, R. Ébano. Minha vida na África. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
________________ O imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
________________ O Xá dos Xás. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
________________ Minhas viagens com Heródoto. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
KUCINSKI, Bernardo e BRANDFORD, Sue. A ditadura da dívida. São Paulo: Brasiliense, 1987.
LIMA, Edvaldo Pereira: Ayrton Senna: guerreiro de Aquário.  São Paulo: Brasiliense, 2003.
MAILER, N. A luta. São Paulo: Companhia de Bolso, 2011.
MARINOVICH, G e SILVA, J. O clube do bangue bangue. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
MÁRQUEZ, Gabriel Gárcia. Cheiro de goiaba: conversas com Plínio Apuleyo Mendoza. Rio de Janeiro: Record, s/d.
_____________. Colômbia espelho América: dos piratas a García Márquez, viagem pelo sonho da integração latino-americana. São Paulo: Perspectiva e Edusp, 1989.
_____________. Relato de um náufrago. Rio de Janeiro: Record, s/d.
____________ Notícia de um seqüestro. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2009.
MATZENBACHER, Luiz Oscar.  Antártida.  Porto Alegre: LP&M, 1986.
MAYRINK, José Maria.  Vida de repórter. São Paulo: Geração Editorial, 2002.
MEDINA, Cremilda. Viagem à literatura portuguesa contemporânea. Rio de Janeiro: Nórdica, 1983.
MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Alfa-Omega, 1987.
________________ A Ilha. 1976.
MORRISON, Tony. Os Andes. Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1982.
MOTTA, Nelson. Vale tudo: o Som e a Fúria de Tim Maia. São Paulo: Objetiva.
NEPOMUCENO, Eric – O Massacre. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.
NETO, Lira. Maysa; Só numa Multidão de Amores. Rio de Janeiro: Globo.
NÊUMANE, José. A República na lama. São Paulo: Geração de Comunicação,1992.
NOVAES, Washington. Xingu: uma flecha no coração. São Paulo: Brasiliense, 1985.
REALI Jr. Às margens do Sena. São Paulo: Ediouro, 2007.
REED, John. México Rebelde. São Paulo: Zumbi, 1959.
_____________ Os dez dias que abalaram o mundo. Porto Alegre: L&PM Pocketr, 2002.
SCLIAR, Moacyr Jaime. O Texto, ou: a Vida – Uma Trajetória Literária. Bertrand Brasil.
SEIERSTAD, A. O livreiro de Cabul. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2002.
SERLING, Tom. A Amazônia. Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1983.
SETTI, Ricardo A. Conversas com Vargas Llosa. São Paulo: Brasiliense, 1986.
SOUZA, Percival de. Autópsia do medo: vida e morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury. São Paulo: Globo, 2000.
SWIFT, Jeremy. O Saara. Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1981.
TALESE, G. Fama & Anonimato. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
__________ Vida de escritor. São Paulo: Companuia das Letras, 2009.
__________ O reino e o poder. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.
THOMPSON, H. S. Medo e delírio em La Vegas. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2010.
________________ Rum: diário de um jornalista bêbado. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011
VENTURA, Zuenir – Cidade Partida. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
_____________ 1968 o ano que não terminou: a aventura de uma geração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
_______________ Chico Mendes - Crime e castigo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
VILAS BOAS, Sergio. Os estrangeiros do trem N. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
WOLF, T. Radical Chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Bibliografia de apoio sobre o tema

AVIGHI, Carlos Marcos. Euclides da Cunha jornalista. Doutorado. ECA-USP, 1987.
BARCELLOS, Caco. Abusado: o dono do morro Santa Marta. 18 ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.
BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
BERNER, Thomas R. Literary newswriting: the death of an oxymoron. Journalism Monograph, 99 (outubro de 1986), 2005.
BULHÕES, Marcelo Magalhães. Jornalismo e Literatura em Convergência. 1. ed. São Paulo: Ática, 2007.
CASTRO, M. S. Bexiga: um bairro afro-italiano. São Paulo: Annablume, 2008.
COTTA, Pery. Jornalismo: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Rubio, s/d.
FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem Palavras. São Paulo: Ática, 2004.
KORICHI, M. Andy Warhol. Porto Alegre: LP&M, 2009.
KEROUAC, J. On the Road - pé na etrada. Porto Alegre: L&PM, 2004.
LAGE, Nilson. Teoria e técnica do Texto Jornalístico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo: Ática, 2008.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. 10 ed. São Paulo: Ática, 2002.
LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 1998.
LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 3. ed. Barueri: Manole, 2004.
MALCOM, J. O jornalista e o assassino. São Paulo: Companhia de Bolso, 2001.
MANDELA, N. A luta é minha vida. São Paulo: Globo, 1989.
MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1990.
MERQUIOR, José Guilherme. A Astúcia da Mímese: Ensaio Sobre Lírica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.
POUILLON, Jean. Temps et Roman. 3. ed. Paris: Gallimard [s.d].
ORWELL, G. Dias na Birmânia. Nova Fonteira, s/d
PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 8. ed. São Paulo: Ática, (Série Princípios), 2007.
SATO, Nanami. Jornalismo e Literatura – A Sedução da Palavra. São Paulo: Escrituras (Coleção Ensaios Transversais), 2005.
WOLFE, Tom. The Right stuff. Toronto e Nova York: Bantam, 1981. Publicado no Brasil pela Rocco, Rio de Janeiro, em 1991, com o título de Os eleitos.
SODRÉ, Muniz e FERRARI, Maria Helena. Técnica de Redação: O Texto nos Meios de Informação. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
TCHEKHOV, A. Um bom par de sapatos e um caderno de anotações. Como fazer uma reportagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007

Sites

LIMA, Edvaldo Pereira. Texto Vivo. Disponível em: <http://www.textovivo.com.br>. Acesso em 22/04/2008.
INFANTE, Ulisses. Curso de literatura e de língua portuguesa. In: Para ler a prosa de ficção (adaptação). Cap. 4. 1ª Ed. Disponível em <www.cmrj.ensino.eb.br/ensino/notas>s/d. Acesso em 23/08/2008.




quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Meus oito anos

A galeria de personagens favoritos para quem ama histórias em quadrinhos é imensa. Não me lembro quando tudo começou, mas certamente foi muito cedo. Em casa lia-se muito, e era uma profusão de livros, revistas, gibis, historinhas infantis. Era um tempo em que, durante alguns anos, vivemos em uma chácara, em uma casa de madeira pré fabricada, que era um verdadeiro sonho. Meus pais transformaram aquele espaço em um lugar tão aconchegante que é mesmo difícil de descrever, só mesmo consultando as fotografias da época. Mas havia muitas flores pela casa, pois o jardim era imenso, além da plantação de roseiras que minha mãe mantinha para fornecer às floriculturas locais. Havia quadros e enfeites, resultado das viagens que meu pai, aviador, trazia, sua coleção de cinzeiros espalhados por todos os móveis, o toca discos que tocava boleros. Uma estante cheia de livros e bibelôs. E um jardim que rodeava a casa, com gramado, bancos, balanços, uma casa na árvore, feito por meu pai e meu avô paterno, carpinteiro e uma pequena piscina. Horta, pomar, cachorro, gato, galinhas... No início não tinha energia elétrica e nos virávamos - meus pais, meu irmão e eu - à luz de velas. Depois veio um lampião a gás, instalado no centro da sala, depois um gerador de energia elétrica e por fim a energia que chegava de um poste instalado na entrada da chácara. Assim, as noites transcorriam à meia luz, com histórias contadas pelo seu Zé, o caseiro, muitas de arrepiar e tirar o sono das crianças, mas que adoravam ouvi-las. Como não havia televisão, lia-se. Era a época dos gibis da Disney. Me lembro hoje de algumas palavras que aprendi lendo Tio Patinhas: oráculo, Patagônia, Timbuctu. Lia Luluzinha e Bolinha, Bolota, Riquinho, Brotoeja.

Minha personagem favorita era a Maga Patalógica. Mais tarde compreendi porque, mas acho que naquela época já me atraía nela o fato de ela viver sozinha (tinha somente como companhia o corvo-lacraio-pombo-correio Laércio) e independente em um castelo, aos pés do Vesúvio e deslocar-se rapidamente por todo o planeta com a sua vassoura. De solto alto e sem desmanchar o penteado Chanel ou amarrotar seu lindo little black dress. Um luxo!!




Nas férias, na casa dos avós maternos, não era diferente. Cansada da correria com os primos, buscava refúgio nos gibis da Marvel, coleção do meu tio que hoje pertence a uma das primas. Capitão América, Homem Aranha, Super Homem, Fantasma, Mandrake, Hulk, Homem Submarino... Depois de ler tudo aquilo, fabricava eu mesma as minhas histórias, uma mistura do que lia a partir das aventuras do Tio Patinhas com os super heróis.

Mais à frente, vieram os Asterix. A coleção ainda está guardada, à qual acrescentei volumes em francês e alemão, quando vivi nesses dois países.

Uma infância que foi uma preciosidade: casa na árvore, jardim, bicicleta, bichos de estimação, espaço, liberdade, gibis, meus pais, meu irmão. Já naquele tempo adorava a poesia do Casimiro de Abreu, Meus oito anos. Talvez já prenunciando a saudade que sentiria de tudo aquilo anos mais tarde.


Meus oito anos

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !

– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Casimiro de Abreu

Do livro  As Primaveras, de Casimiro de Abreu, publicado em 1859 (conheci esse poema na coleção Mundo da Criança).



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Voltando pra casa...

“Um dia frio/ Um bom lugar pra ler um livro”
Pra ouvir Djavan
Ou pra assistir a um bom filme...

Aí vão alguns títulos que me ajudaram a fugir do ziriquidum, enquanto ouvia a chuva lá fora:

O nome do bebê (Le prenom - Dir. Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière - 2012) é uma comédia, que pelo menos começa como tal, mas que com o decorrer da história traz questões que acabam por gerar conflitos e revelações durante um jantar entre cinco amigos. O filme tem muito da estética atual do cinema francês, daqueles que mostram como gostam de discutir a fundo tudo o que é trazido à tona numa aparentemente simples conversação. Tudo parte da escolha do nome do bebê está para nascer, de um dos casais presentes. Uma inocente reunião, saboreada por amigos de infância, regada a bom vinho e culinária marroquina, vai aos poucos se transformando em um drama com revelações catárticas e surpreendentes.

A história se passa no apartamento de um dos casais - ela professora de francês em um liceu parisiense e ele professor de literatura na Sorbonne - localizado próximo à NotreDame, repleto de estantes de livros, que se replicam em pilhas ao lado dos sofás, em meio a uma profusão de fotos, desenhos, bibelôs (très parisienne!). Para assistir duas vezes: uma para seguir a divertida história e outra para observar os detalhes do cenário.
Com Charles Berling, Françoise Fabien, Valerie Benguigui, Patrick Bruel.

Antes do inverno (Avant l’hiver. Dir. Philippe Claudel, 2013)
Daniel Auteuil personifica o homem maduro bem sucedido, respeitado cirurgião que chega à idade madura surpreendido por algo que vai revirar sua vida pacata e seu casamento de 30 anos. A história se repete: a mulher que se retira da vida para se ocupar dos filhos e fazer com que o marido alcance o sucesso profissional. A presença de uma jovem de origem marroquina vem alterar o rumo de uma trajetória previamente traçada. A trama tem algo que faz lembrar o excelente Cahe (Michael Haneke, 2005), também com Daniel Auteuil.

Belíssima fotografia. Daniel Auteuil e Kristin Scott Thomas impecáveis, comme d’ habitude. Kristin já havia trabalhado sob a direção de Claudel em outro ótimo filme, Há tanto tempo que te amo, de 2008. 

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Delícias do feriado

Um retiro entre a serra e o mar...
Redenção da Serra - SP

Ubatuba - SP

E as montanhas do interior

São José do Rio Pardo - SP

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Resenha O Reino e o Poder, de Gay Talese

Resenha

O Reino e o poder


O livro aborda a história de um dos veículos mais importantes da imprensa mundial de todos os tempos - o New York Times.

Dono de um estilo inconfundível, Talese utiliza as histórias de vida de seu fundador, Adolph Ochs e de seus colaboradores para compor  um painel que vai de 1851 - ano da fundação do jornal, mas ainda nas mãos de seu antigo fundador (Ochs o adquire em 1896, por 75 mil dólares!) à década de 1960 do século 20.

São inúmeros personagens que vão surgindo aos olhos dos leitores, em uma profusão de atividades, perfis, comportamentos. Alguns são apenas mencionados, outros surgem em alguns parágrafos, outros ainda em várias páginas, mas alguns atravessam o livro como fios condutores não só da história, mas do próprio jornal. É o caso, por exemplo, de Clifton Daniel, Harrison Salisbury, Orvil  Dryfoos, James Reston, Sydney Gruson, Arthur Krock, Lester Markel e, é claro, seu fundador, Adolph Ochs, sua filha Iphigene Ochs, depois Iphigene Ochs Sultzberger, Arthur Hays Sultzberger, seu marido e Publisher após a morte de Adolph e Arthur Ochs Sulzberger, seu filho e Publisher após a morte do pai. Nessa tarefa hercúlea, Talese vasculhou arquivos do jornal, arquivos pessoais da família Ochs, ouviu colegas de redação, coletou depoimentos, leu, pesquisou, observou. Funcionário da casa ele mesmo, tem em seu vasto currículo importantes matérias, algumas delas descritas em outros livros memoráveis de sua autoria, Vida de escritor e Fama e anonimato. Como jornalista do New York Times, Talese cobriu a marcha de Martin Luther King no sul dos Estados Unidos, em dos momentos incendiários da luta dos negros norte americanos por seus direitos. Talese tem ainda em seu currículo o fato de ser um dos pesos pesados do new journalism, em uma galeria na qual figuram Norman Mailer, Tom Wof, entre outros.

O ponto de partida e fio condutor é o próprio fundador do jornal - um sulista simples, que desde cedo começou a trabalhar no ambiente da imprensa, um pequeno jornal do sul chamado Chatanooga Times e em nenhum momento se desviou daquilo que considerava o seu propósito - dar sua vida, seu trabalho para o que mais e melhor sabia fazer: jornalismo.

Ochs encarna o self made man norte americano em todas as suas características: começa varrendo chão do Knoxville Chronicle aos catorze anos, foi Office-boy desse mesmo jornal quando, em 1872, candidatou-se a um emprego em tempo integral e foi admitido para essa função, decidindo que os jornais seriam sua vocação de vida.

O slogan de sua criação - Todas as notícias dignas de publicar - ficou para sempre como a marca registrada do New York Times.

Centralizador, correto, com enorme talento para não criar inimizades políticas e ser o mais isento possível, com faro para reconhecer o que, em sua época, deveria ser veiculado para atender ao gosto dos seus leitores sem ofender ninguém, conduziu sua empresa até o dia de sua morte. Tido como um dos homens mais influentes de seu tempo, passou a empresa para o genro, que por sua vez a repassou para o seu filho, permanecendo o jornal nas mãos da família atravessando mais de um século.

A história contada por Talese nos remete a momentos inebriantes - e que hoje vão longe - da história do jornalismo. São tempos imemoriais, de redações apinhadas de gente, enfumaçadas, presentes de profissionais que hoje já nem existem mais. Conta momentos gloriosos de grandes correspondentes internacionais, seus contatos, suas fontes influentes, eles mesmos se confundindo com o poder. O título, muito apropriado, remete ao amálgama que muitas vezes une, confunde aquele que gera a notícia e aquele que a produz. Mostra, com o virar das páginas, os pontos nevrálgicos da história mundial do século vinte e como foi a cobertura do jornal sobre os principais eventos que marcaram suas épocas.
Leitura obrigatória para os que amam o jornalismo e principalmente seu passado de glória.

O Reino e o Poder - Gay Talese. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Guti e a Fada Madrinha

Guti e a Fada Madrinha


Uma das melhores coisas do mundo é ter sobrinhos. Fui abençoada com dois - por enquanto - e um deles é meu afilhado. Como aconteceu comigo e com meu irmão, que crescemos em meio a gibis e livros infantis (ainda guardamos nossas coleções, tanto de gibis quanto de contos e histórias infantis), desde cedo presenteio meu afilhado com livros. Quando ainda era um bebê, os livrinhos era de plástico, de tecido, com texturas, cores, faziam o barulho do objeto ou animal tocado, enfim, tudo que pudesse despertar nele a magia das letrinhas. Até que resolvi escrever eu mesma algumas historinhas e músicas pra ele. O que segue foi o primeiro e outro já está em fase de finalização:





Guti e a Fada Madrinha
Andréia T. Couto
Copyright© 2011 Andréia Terzariol Couto
Guti e a Fada Madrinha
Capa: Andréia T. Couto
História: Andréia Couto
Desenhos: Andréia T. Couto
Diagramação e Arte: Andréia Couto
2011- Todos os direitos reservados a Andréia T. Couto
Campinas - S.P.


Guti e a Fada Madrinha

Era uma vez um garotinho muito sapeca chamado Guti.
Quando ele chegou, foi a alegria de seus pais, avôs, avós e tias. Era uma
coisinha fofa de dois quilos e oitocentos gramas, com olhos grandes,
redondos e escuros como jabuticabas.
Aos oito meses ele ganhou uma Fada Madrinha. Quer dizer, ganhou
oficialmente, em uma bela cerimônia, pois a Fada Madrinha já existia
para ele desde o seu nascimento. Na verdade, praticamente todos os
meninos e meninas têm uma Fada Madrinha.


Mas o que é (ou quem é) uma Fada Madrinha?




Nos Contos de Fadas, elas surgem por ocasião do nascimento das
crianças (que são às vezes príncipes e princesas) e, além de lhes desejar as
boas vindas, predizem o seu futuro com todas as boas coisas que podem
existir. Às vezes surgem as Fadas Madrinhas Más, mas vamos deixá-las
fora dessa história.
As fadas Madrinhas dos contos de Fadas são sempre representadas como
pessoas muito bondosas, meigas, bonitas e delicadas. E para ajudarem seus
afilhados e afilhadas a realizarem seus sonhos e desejos, carregam consigo
a inseparável “varinha de condão”. Essa é uma varinha mágica, com uma
estrelinha amarela na ponta, que a Fada Madrinha chacoalha na direção
do afilhado - ou afilhada - sempre que vai realizar o seu desejo.
E o que é o desejo?
Nos Contos de Fadas, era transformar uma abóbora em carruagem, uma
roupa suja e rasgada em um belo vestido de baile, uma sandália velha em
um sapatinho de cristal (se você está pensando em Cinderela, acertou), um
pedaço de madeira em uma espada, um pangaré em um lindo pônei... A
lista é bem grande, tudo para fazer os afilhados felizes. Às vezes, a Fada
Madrinha dos contos de Fadas até arranjava um belo príncipe ou princesa
para os afilhados!
Muitas vezes a Fada Madrinha aparecia em momentos de apuro e
tristeza, ou para desfazer algum mal que alguma outra pessoa havia feito
para o seu afilhado ou afilhada, como no caso da Branca de Neve (você
se lembra da Bruxa Má dessa história, não é?), e com a sua varinha
mágica, fazia tudo voltar ao normal e feliz, ou então mudava o
encantamento para alguma coisa mais suave (no caso da história da
Branca de Neve, a Fada Madrinha dela trocou o feitiço da Bruxa
Má, que queria que a Bela Adormecida dormisse para sempre para um
encantamento que dizia que ela dormiria até que um príncipe belo e bondoso
aparecesse e despertasse a princesa com um beijo. E isso aconteceu quando
a Bela Adormecia estava com quinze anos, apareceu um príncipe num belo
cavalo branco, encontrou a princesa dormindo, deu-lhe um beijo e ela
despertou - e eles viveram felizes para sempre, porque é assim que terminam
as histórias dos contos de fadas).
Nos dias de hoje as Fadas Madrinhas estão um pouco diferentes (embora
continuem boas, belas e sábias). Ao invés de longos vestidos brancos usam
jeans e camiseta e, ao invés de carruagens, com as quais transitavam por
bosques fantásticos, agora dirigem pequenos carros esportivos vermelhos
pelo trânsito caótico das grandes cidades.



Os presentes das Fadas Madrinhas atuais também mudaram: nada de
carruagens, sapatinhos de cristal, pôneis brancos, espadas cintilantes. As
Fadas Madrinhas de hoje dão aos seus afilhados presentes mais radicais -
para desespero de seus pais. Patinetes, skates e pranchas de surf. (a Fada
Madrinha do Guti prometeu a ele uma prancha de surf quando ele fizer
oito anos - ainda faltam três! E ela pretende aprender a surf junto com
ele).


Elas também adoram dar livros de historinhas cheios de desenhos lindos
para os seus afilhados.
As Fadas Madrinhas também não usam mais varinha de condão. Nos
dias de hoje, com tanta correria, não dá mais pra ficar carregando pra lá e
prá cá uma varinha frágil e delicada.
Hoje, com a internet, a Fada Madrinha pode se conectar com seus
afilhados mesmo de longe, através de um sistema chamado Skipe (o pai do
Guti, o Herói, ficou de instalar um no computador dele pra Fada
Madrinha conversar com o Guti a qualquer hora), fazer pedidos e enviar
encomendas a um simples “click”, na mesma velocidade de uma varinha de
condão dos tempos antigos.


Mas e o Guti?
É mesmo, voltemos à história. Como toda criança de cinco anos, ele é
alegre, serelepe, divertido e diz muitas coisas engraçadas. É muito
inteligente, tem muitos amigos, e uma vida social movimentada. De manhã
vai à escolinha, onde aprende a desenhar, pintar, colar, além de brincar com
seus coleguinhas. Nos fins de semana sempre tem festinhas de aniversário,
vai ao cinema, teatro, circo, zoológico, parque ecológico, parque de diversão,
à pracinha andar de bicicleta e skate e tomar água de côco, ao shopping
brincar no parquinho, ufa!! E em casa tem mais diversão, desenho
animado, jogos - de futebol, dominó, quebra-cabeças, teatrinho, carrinhos...
quanta coisa! Às vezes ainda sobra um tempinho pra brincar de se
fantasiar de seus super-heróis favoritos.
À noite, antes de dormir, gosta que contem histórias ou cantem pra ele.
Quando sua Fada Madrinha está com ele, gosta que ela conte a história
do Cabra Cabrês ( ♪ ti tó tó, ti tó tó, ♫ água fresquinha para beber...
♪nhoque, nhoque, nhoque, ♫ grama verdinha para comer!).
Vocês já perceberam que o Guti não pára - haja energia! Com tanta coisa
pra fazer, às vezes ele não quer parar uns minutos para almoçar e jantar.
Seus pais tentam, pedem, “Guti, come mais um pouquinho!” Ele, girando
a cabeça pra lá e prá cá, diz - “Não! Não quero mais!”
Quando sua Fada Madrinha está por perto ela também tenta fazê-lo
comer, mas é difícil. Ela mesma, quando era criança - ainda não era uma
Fada Madrinha - também não gostava de comer. Seus pais prometiam
bonecas, brinquedos, passeios, se ela comesse, mas não adiantava. Até
ganhou um apelido do seu pai, Magrela. Mas até que um dia, quando
fez oito anos, seu apetite se abriu - teria sido uma magia da sua Fada
Madrinha? - e ela começou a comer de tudo, cresceu, engordou (embora
essa parte de engordar a Fada Madrinha não goste muito) e tudo ficou
normal. Por isso ela não insiste muito, pois sabe que, de repente, seu
amado afilhado vai começar a ter um apetite de Rei Leão!
E por falar em Rei Leão, a Fada Madrinha do Guti tem a pretensão de
oferecer a ele uma viagem, não à Disney, porque isso é muito comum, mas
uma viagem para ver leões, girafas, hipopótamos, rinocerontes, gorilas, tudo
no seu verdadeiro lar, ou seja, um safári na África! Será que os pais do
Guti deixariam ele viajar com a Fada Madrinha?


Voltando à comida, do que o Guti gosta de comer?
Sua comida predileta, a número um, é o macarrão, que ele chama de
minhoquinha. Ele adora minhoquinha, principalmente se com molho branco.
Outra coisa que ele adora: mamadeira, que ele chama de Tetê. Toma Tetê
de manhã, à tarde e à noite, antes de dormir. E sempre que vai tomar a
Tetê, gosta de ficar segurando a sua mantinha. Também gosta de pão de
queijo e água de côco. Ah, também gosta muito de danoninho e chocolate.
E ultimamente seus pais tiveram que fazer um estoque de brócolis, pois
passou a exigir minhoquinha com brócolis para o jantar em quase todas as
noites. Detalhe: ele não gosta muito de carne.
Ele é um príncipe!
Toda Fada Madrinha acha que seu afilhado é um príncipe, e a do Guti
também acha isso dele. Também, pudera, ele é lindo, inteligente, bem
humorado, carinhoso, bondoso... tem todas as qualidades de um príncipe!
Por isso, o Guti é o Pequeno Príncipe da Fada Madrinha. Com o seu
poder mágico, ela vai criar uma bela coroa dourada para o Guti brincar de
príncipe.
Bem, a primeira parte da nossa história está chegando ao fim. E para
finalizá-la, vamos cantar uma linda canção, pois o Guti adora adormecer
com uma música:

♫ Fui ao mercado comprar limão
Peguei a sacola e um dinheirão
♪ Chegando lá encontrei o Zecão
Estava sentado, caído no chão!
♪ Levanta, Zecão, vai buscar o meu
limão!
Estou atrasado pro meu macarrão!
♪ Olha Gutizinho, não chateia, não!
Caí sentado, escorreguei no sabão!
♫ Tá bom, Zecão, vou te dar uma
mão,
Mas depois, vai encher meu sacolão
♫ Quero limão, feijão e macarrão!
Esse é o personagem da história, o
Guti!


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Teoria, prática, vida acadêmica, mercado


Ao longo de décadas venho dedicando minha vida ao trabalho acadêmico. Foi o que escolhi ainda muito jovem, levada principalmente por uma característica: gostava de ler, adorava literatura e queria muito escrever. Minha primeira opção foi o jornalismo, levada principalmente pela imagem de jornalistas que eu admirava desde muito cedo. Nunca gostei muito de televisão, mas gostava do jornalismo impresso. Jornais e revistas sempre foram meus companheiros, em uma época em que as distrações tecnológicas eram inexistentes e a palavra portabilidade ficava a cargo de levar meus livros e revistas para onde quer que eu fosse.
A segunda opção era Letras. Felizmente essas duas carreiras casam muito bem e cursei as duas.
Como docente em cursos de Letras, encontrei um perfil de alunos que, como eu, amavam literatura, devoravam livros e sentiam-se mais à vontade com as proposições teóricas envolvidas no curso, uma vez que quem escolhe esse curso, tem plena consciência de que a sua prática profissional vai exigir e muito da sua competência teórica. Não se sentiam tão pressionados pela lógica do mercado, exigente de práticas muitas vezes vazias e sem sentido, desfalcadas de apoios sólidos calcados em reflexões e senso crítico. E assim foi.
Hoje, passados anos de uma carreira que está por terminar - chegou finalmente o momento de me envolver com outros assuntos - olho para trás com certo saudosismo e sinto muita saudade de um tempo bom, de respeito e camaradagem, de reconhecimento e envolvimento, comprometimento e alianças que certamente irão perdurar. A saudade me levou a revisitar a baú de fotos, que trago aqui para compartilhar com ex alunos de quem tenho muita saudade. A eles minha pequena homenagem. Saudades!!!

















quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A Demoiselle e o Boing

A Demoiselle e o Boing
                                                                       Andréia T. Couto
            O mundo das aeronaves tem sido foco da imprensa nas últimas semanas. Primeiro, por causa do acidente com o Boing da Gol, levando consigo 154 vítimas. Segundo, porque a data 23 de outubro de 2006 comemora os 100 anos do primeiro vôo do 14 Bis, um ano antes que a graciosa parisiense Demoiselle de Santos Dummont levantasse suas asas sobre Paris. Seja como for, o aviões significam não só a conquista suprema da tecnologia que nos põe – hoje – confortavelmente nos ares, como tornou possível à humanidade dominar o binômio espaço/tempo. O que nos impede, pelos menos às pessoas comuns, de viajarmos pelo mundo não são as dificuldades impostas pela distância e pelo tempo, mas sim as barreiras econômicas. Pois para quem pode, o outro lado do mundo é logo ali.
            Claro que para o viajante moderno, o avião é o ponto de partida para a sua aventura, como as caravelas eram para os ancestrais aventureiros do século XVI. Avião e viajantes andam (voam) juntos.
Já me disseram que meu gosto pelas viagens herdei dos meus pais, ele, piloto da aviação civil, ela uma das pioneiras a “solar” um Paulistinha no início dos anos 60. Aliás, tudo começou assim: em uma pequena cidade do interior de Minas, ela foi fazer o curso de pilotagem na recém instalada escola; ele era o instrutor.
Minha primeira viagem aérea foi com alguns dias de vida, instalada confortavelmente no colo da minha mãe no banco de trás de um também Paulistinha, indo de São Paulo para Minas para conhecer meus avós maternos. Também tomei aulas de pilotagem, mas foram poucas horas. Mas a influência para o gosto das alturas e pelo além-mar não para por aí: pequenininha, adorava ver a correspondente da Globo em Londres, Sandra Passarinho, que tinha quase sempre como cenário para as suas reportagens o Big Ben – “Quando eu crescer, quero ser igual a Sandra Passarinho” – em profissão e viagens, complemento agora.
Desde criança, aguardava ansiosa, com minha mãe e meu irmão, o regresso do meu pai vindo de algum lugar distante (talvez nem fosse tão distante assim): no dia da chegada, nós três ficávamos atentos ao barulho de qualquer avião, esperando pelo vôo rasante que ele faria sobre nossa casa. Era uma festa, e também a deixa para largarmos tudo e partirmos rápido para buscá-lo no aeroporto. Até hoje ainda tenho o hábito de olhar para cima sempre que ouço o barulho de um avião.
Pois deve ter sido isso: vê-lo partir, chegar, contar histórias, trazer presentes, lembranças, de acompanhá-lo ao aeroporto e passar por lá longas horas quando ele não estava a serviço. Tudo isso somado aos livros infantis e aos seriados de TV da Sessão da Tarde: Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do Mar (e seu maravilhoso Subvoador) Perdidos no Espaço, complementando a herança genética.

Qual a minha primeira viagem emocionante? Difícil dizer, pois foram várias, divididas em algumas categorias, que fica difícil arriscar. Depende da época em que foi realizada, a expectativa, o que buscava encontrar...Viagens urbanas, viagens no campo, às bordas de florestas, em barcos...Mas sem dúvida, parecia que ela só começava a se concretizar no saguão do aeroporto, e depois, principalmente na decolagem. Enquanto subia, um delicioso friozinho na barriga me fazia pensar...lá vou eu de novo!
Originalmente publicado na revista Griffe (2008)