Muitas são as formas de passarmos pelo mundo. Muitos são os caminhos, obstáculos, realizações. Mil são as nossas colinas diárias a serem transpostas. Do alto de cada uma delas, podemos observar nossos rastros olhando para trás e, adiante, contemplando o horizonte, o que queremos realizar.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Dissertação de Mestrado - Labjor

A MULHER ORIGINAL - PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A ARQUEÓLOGA NIÉDE GUIDON
Cristiane Delfina Santos Duarte

Dissertação de Mestrado apresentada em fevereiro de 2015 ao Instituto de Estudos da Linguagem - Laboratório De Estudos Avançados Em Jornalismo - Labjor, da Universidade Estadual de Campinas, sob a orientação do Prof. Dr. Celso Luiz Figueiredo Bodstein, para obtenção do título de Mestra em Divulgação Científica e Cultural, na área de Literatura, artes e comunicação.

            Desde sua fundação, em o Labjor tem produzido importantes trabalhos de pesquisa na área de divulgação científica e tecnológica e se tornado uma das mais importantes referências para a pesquisa acadêmica dessa natureza no Brasil.
            Muito estamos acostumados a ouvir sobre ciência e tecnologia e sua divulgação como uma árdua tarefa de transmitir aos leigos informações sobre ciência e tecnologia, seja através de editorias específicas em jornais, seja em revistas ou programas televisivos especializados sobre o tema.
            Uma coisa é certa: não é tarefa fácil para um jornalista fazer essa ponte ou “tradução” do material produzido por um público, de um lado, altamente especializado, para outro, na maioria das vezes, curioso, interessado, mas desconhecedor sobre os assuntos tratados. De um lado cientistas e pesquisadores reclamam que os jornalistas são generalistas e simplificam - quando não distorcem - o que tentam explicar em entrevistas sobre suas pesquisas e descobertas. De outro, os jornalistas reclamam que os cientistas são muito fechados, usam termos específicos de suas áreas, não se preocupam em ser claros e objetivos em suas explicações, causando um distanciamento entre eles e o grande público. Ainda assim, essa é uma área do jornalismo que tem alcançado grande visibilidade na mídia em geral e atraído um público cada vez mais interessado.
            Os alunos de jornalismo, desde que entram na faculdade, ouvem e aprendem sobre a redação jornalística: clara, objetiva, isenta de opiniões, eminentemente informativa, trata o fato como algo distante de si e sem julgamento de valores (sim, estou falando como deveria ser, não necessariamente como é), salvo para textos específicos da área, como editoriais e crônicas.
            Para o jornalismo científico e tecnológico, o discurso não é diferente, afinal, a própria redação científica baseia-se na impessoalidade e o distanciamento entre o objeto de pesquisa e o pesquisador.
            Felizmente, de tempos em tempos, somos surpreendidos por textos que conseguem aliar, nos moldes de um bom livro-reportagem, a linguagem mais “aberta”, criativa, na formatação de uma dissertação de mestrado na área de divulgação científica. E assim é a dissertação de Mestrado de Cristiane Delfina. A começar pelo título, A mulher original, Cristiane nos revela a viagem de Niéde Guidon desde sua juventude até sua chegada na Serra da Capivara. Ao começar a ler seu livro - espero que ela o publique - não pude deixar de comparar Niéde Guidon a Dian Fossey, que sozinha combateu caçadores e protegeu os gorilas das montanhas, criando um parque que abrange três países responsáveis pela sua conservação: Ruanda, República Democrática do Congo e Uganda. Tanto lutou contra tantos poderes estabelecidos que acabou assassinada covardemente em sua casa nas montanhas. Mas seu legado permanece inabalável e sua luta reconhecida mundialmente. E os gorilas protegidos.
            A linguagem da dissertação, leve, desembaraçada, poética até, não mascara qualquer tentativa de escamotear sua base teórica: Cristiane percorreu seguramente todo o caminho da teoria que escolheu para amparar a escolha de seu objeto/sujeito de pesquisa  para nos regalar com um trabalho que, mais do que rico, é importante para firmar o legado de Niede Guidon, assim como para mostrar a todos o que uma mulher pôde fazer no lugar do que um governo inteiro deveria fazer e não fez - e continua não fazendo: proteger e dar continuidade ao trabalho iniciado por ela, protegendo suas importantes descobertas científicas e tornando o Parque Nacional da Serra da Capivara um parque reconhecido, cuidado e protegido por lei (o parque foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade perante a UNESCO em 1991).
            E por fim, como se não bastasse o texto saboroso, Cristiane nos presenteia com belas imagens, como deveria se esperar de alguém que, além de escrever bem, também é produtora de filmes. Paralelamente à dissertação, Cristiane Delfina produziu e dirigiu um documentário sobre Niéde Guidon, intitulado A mulher original.



2 comentários:

Delfinah disse...

...e você fala tudo isso e nem me avisa?
Fiquei muito feliz que tenha gostado! Sua visão é muito importante pra mim! Beijo!!

O país das Mil Colinas disse...

Demorei pra escrever, pois estava sobrecarregada.
Gostei muito da dissertação, que li depois da defesa, com calma. E adorei o documentário, as fotos...
Espero que não pare por aqui!