A MULHER
ORIGINAL - PRODUÇÃO DE SENTIDOS SOBRE A ARQUEÓLOGA NIÉDE GUIDON
Cristiane Delfina Santos Duarte
Dissertação de Mestrado apresentada em fevereiro de 2015
ao Instituto de Estudos da Linguagem -
Laboratório De Estudos Avançados Em Jornalismo - Labjor, da Universidade
Estadual de Campinas, sob a orientação do Prof. Dr. Celso Luiz Figueiredo Bodstein, para obtenção do
título de Mestra em Divulgação Científica e Cultural, na área de Literatura,
artes e comunicação.
Desde sua fundação, em
o Labjor tem produzido importantes trabalhos de pesquisa na área de divulgação
científica e tecnológica e se tornado uma das mais importantes referências para
a pesquisa acadêmica dessa natureza no Brasil.
Muito estamos
acostumados a ouvir sobre ciência e tecnologia e sua divulgação como uma árdua
tarefa de transmitir aos leigos informações sobre ciência e tecnologia, seja
através de editorias específicas em jornais, seja em revistas ou programas
televisivos especializados sobre o tema.
Uma coisa é certa: não
é tarefa fácil para um jornalista fazer essa ponte ou “tradução” do material
produzido por um público, de um lado, altamente especializado, para outro, na
maioria das vezes, curioso, interessado, mas desconhecedor sobre os assuntos
tratados. De um lado cientistas e pesquisadores reclamam que os jornalistas são
generalistas e simplificam - quando não distorcem - o que tentam explicar em
entrevistas sobre suas pesquisas e descobertas. De outro, os jornalistas
reclamam que os cientistas são muito fechados, usam termos específicos de suas
áreas, não se preocupam em ser claros e objetivos em suas explicações, causando
um distanciamento entre eles e o grande público. Ainda assim, essa é uma área
do jornalismo que tem alcançado grande visibilidade na mídia em geral e atraído
um público cada vez mais interessado.
Os alunos de
jornalismo, desde que entram na faculdade, ouvem e aprendem sobre a redação
jornalística: clara, objetiva, isenta de opiniões, eminentemente informativa,
trata o fato como algo distante de si e sem julgamento de valores (sim, estou
falando como deveria ser, não necessariamente como é), salvo para textos
específicos da área, como editoriais e crônicas.
Para o jornalismo
científico e tecnológico, o discurso não é diferente, afinal, a própria redação
científica baseia-se na impessoalidade e o distanciamento entre o objeto de
pesquisa e o pesquisador.
Felizmente, de tempos
em tempos, somos surpreendidos por textos que conseguem aliar, nos moldes de um
bom livro-reportagem, a linguagem mais “aberta”, criativa, na formatação de uma
dissertação de mestrado na área de divulgação científica. E assim é a
dissertação de Mestrado de Cristiane Delfina. A começar pelo título, A mulher original, Cristiane nos revela
a viagem de Niéde Guidon desde sua juventude até sua chegada na Serra da
Capivara. Ao começar a ler seu livro - espero que ela o publique - não pude
deixar de comparar Niéde Guidon a Dian Fossey, que sozinha combateu caçadores e
protegeu os gorilas das montanhas, criando um parque que abrange três países responsáveis
pela sua conservação: Ruanda, República Democrática do Congo e Uganda. Tanto
lutou contra tantos poderes estabelecidos que acabou assassinada covardemente
em sua casa nas montanhas. Mas seu legado permanece inabalável e sua luta
reconhecida mundialmente. E os gorilas protegidos.
A linguagem da dissertação, leve,
desembaraçada, poética até, não mascara qualquer tentativa de escamotear sua
base teórica: Cristiane percorreu seguramente todo o caminho da teoria que
escolheu para amparar a escolha de seu objeto/sujeito de pesquisa para nos regalar com um trabalho que, mais do
que rico, é importante para firmar o legado de Niede Guidon, assim como para
mostrar a todos o que uma mulher pôde fazer no lugar do que um governo inteiro
deveria fazer e não fez - e continua não fazendo: proteger e dar continuidade
ao trabalho iniciado por ela, protegendo suas importantes descobertas científicas
e tornando o Parque Nacional da Serra da Capivara um parque reconhecido,
cuidado e protegido por lei (o parque foi reconhecido como Patrimônio da
Humanidade perante a UNESCO em 1991).
E por fim, como se não bastasse o
texto saboroso, Cristiane nos presenteia com belas imagens, como deveria se
esperar de alguém que, além de escrever bem, também é produtora de filmes. Paralelamente
à dissertação, Cristiane Delfina produziu e dirigiu um documentário sobre Niéde
Guidon, intitulado A mulher original.
2 comentários:
...e você fala tudo isso e nem me avisa?
Fiquei muito feliz que tenha gostado! Sua visão é muito importante pra mim! Beijo!!
Demorei pra escrever, pois estava sobrecarregada.
Gostei muito da dissertação, que li depois da defesa, com calma. E adorei o documentário, as fotos...
Espero que não pare por aqui!
Postar um comentário