O comércio de roupas segunda mão
O comércio de segunda mão existe
há muito tempo. Na Europa, comprar objetos usados é uma prática comum e não
está restrita apenas a pessoas que não têm dinheiro para consumir produtos
novos. Em grandes cidades, é comum os mercados das pulgas figurarem entre os
roteiros preferidos de muita gente nos finais de semana. São geralmente espaços
enormes, cheios de tendas ou pequenas lojas ou então simplesmente um espaço
aberto em que as pessoas chegam, montam seus mostruários sobre caixas, tapetes
ou bancas. Tem de todo jeito. Vivi em uma cidade na Alemanha de cerca de 500
mil habitantes chamada Brawnshweig, onde havia um mercado das pulgas a céu
aberto, o Flohmarket - que funcionava
aos sábados e era um dos meus destinos favoritos. Novidade para mim, na década
de 1990, ficava fascinada com os milhares de objetos que encontrava, desde
utensílios para casa, roupas, acessórios, bicicletas, brinquedos. O
interessante, naquela época era a quantidade de peças vindas da ex Alemanha
Oriental – a reunificação acabava de acontecer – que centenas de alemães da
DDR, como era chamada a parte oriental, estendiam em tapetes para fazer
dinheiro. Pratarias, faqueiros, vasos, casacos, boinas, coisas incríveis que
eram vendidas a preço absurdamente barato.
Ainda não havia o Euro, e adquiri objetos de decoração e utensílios para
a casa que tenho até hoje.
Outra novidade para mim, naquele
tempo, eram as lojas de roupas de inverno second
hand. Casacos de esqui, de couro, para aguentar o inverno rigoroso, mantôs militares
da segunda guerra... Claro, comprei ali o casaco que me acompanharia por muitos
invernos, até que o emprestei a um amigo na França e nunca mais vi nenhum dos
dois.
O fato é que na Europa, devido às duas guerras mundiais, a população se vi em situação difícil e não havia outra alternativa senão recorrer às lojas de roupas de segunda mão ou aos bazares das igrejas para se proteger do inverno rigoroso. Passados os tempos difíceis, o comércio continuou e hoje os compradores de roupas de brechós têm outro perfil. Muitos vão à procura de raridades, roupas de grife, e estudantes de moda garimpam roupas vintage de grandes costureiros para estudar seus moldes e acabamentos.
Na época em que morei na França não foi
diferente: o Marché au Puces, embora
com uma configuração diferente do que conhecia na Alemanha, era uma maravilha:
antiguidades, bijus antigas, bolsas, roupas de inverno, decoração, livros,
vinis. Uma delícia passear nos fins de
semana por ali, tomar um café e observar o público descolado que frequentava o Marché. Aos poucos fui me familiarizando
com os brechós de Paris e virei frequentadora assídua, pois encontrava objetos
e roupas de grifes famosas em estado impecável e com o preço lá embaixo.
Por isso, desde então guardo o
hábito de incluir no meu roteiro de viagem uma visita aos brechós das cidades
que visito, procurando sempre com antecedência na internet os endereços dessas
lojas. Em Berlim, olhando por acaso as prateleiras de uma livraria, meus olhos
foram atraídos por uma publicação maravilhosa: Os brechós de Berlim.
Por aqui esse tipo de negócio
demorou um pouco para vingar, muito por conta do preconceito que paira sobre
comprar artigos usados. Mas afinal parece que pegou e há brechós espalhados por
todos os lados com uma clientela bastante assídua. É um dos negócios que está
em ascensão hoje, segundo o Sebrae.
Fica o convite para quem nunca
provou, que experimente essa ideia. A ela está ligada também o ideário que
envolve o consumo consciente, sustentável, pois você reaproveita algo que
poderia ser descartado, além de se divertir buscando peças vintage que ninguém mais terá!
Em sentido horário: Viagem ao Lago Konstanz - casaco estilo militar, russo; Paris - casaco de couro; Waggun, Brawnschweig - casaco militar; Brawnschweig - capa pied de poulet, feita por minha mãe. É a única peça que ainda mantenho; Insel Val, casaco militar.
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